02 de fevereiro de 2024

Guia do Estado de S. Catharina – A resenha de hoje

Por José Carlos Sá

A capa do Guia mostra uma arte com a visão panorâmica a partir da baía norte, com a ponte Hercílio Luz ao fundo (Reprodução)

Ler o Guia do Estado de Santa Catharina é como se ter acesso a um manual antes de entrar numa máquina do tempo para viajar ao passado.

O guia, em formato de livro com488 páginas, foi editado em 1935 pelo livreiro Alberto Entres, então  proprietário da Livraria Central, que também publicava livros. Aquele estabelecimento – fico sabendo na rápida pesquisa sobre o sr. Entres – foi fundada em 1910 e vendida após o falecimento do proprietário original, pouco depois do final da Segunda Guerra Mundial (não encontrei a data precisa da morte).

O conteúdo do guia é quase um perfil socioeconômico-cultural, político e religioso de Santa Catarina que tinha em 1935, 43 municípios. É um resumo do histórico com informações das repartições públicas, comércio, indústria, serviços, atividades religiosas e associações de classe. No Guia consta o texto completo da Constituição do Estado promulgada em 25 de agosto de 1935, tendo entre os constituintes a deputada Antonieta de Barros.

O antigo dono do exemplar, que está em meu poder, tinha ciúmes do seu acervo, que afinal acabou indo para um sebo (Reprodução)

Há também os preços cobrados pelos Correios e ‘Telegraphos’  e a oferta do serviço de encomendas internacionais, o “Collis Postaux” (pronuncia-se coli postô). Se você quisesse, podia enviar, por exemplo, uma louça de barro fabricada na olaria do seu Joaquim Antônio Medeiros, de São José, para alguém em Nova Iorque. Para comunicação mais urgente, o telegrama custava 1$300 (um conto e 300 réis) de três a seis palavras, preço que incluia a taxa de previdência (que eu não sei o que é, mas suponho).

Escusas

O editor do Guia, Alberto Entres (dir), dando comida a um tucano (Reprodução de fotograma do Jornal Retrô)

Antes da sessão destinada aos municípios, o editor publicou uma nota pedindo desculpas, se houvesse alguma falha, pois os textos foram “baseados pelas informações recebidas e recolhidas de fontes várias”, acrescentando um dado interessante, que faço questão de transcrever como foi publicado, na ortografia original: “(…) Outro motivo do atrazo da publicação do GUIA, foi o de ter-mos encarregado inicialmente o Snr. Otto Wille de percorrer o Estado, com o fim de colher os dados necessários e angariar annuncios, adiantando-lhe dinheiro para esse fim; deu elle porém pessimo desempenho a esta missão, não prestando contas até hoje das cobranças efectuadas (…)”.

São José

Vista de São José, a prartir do alto da ladeira da rua Padre Macário, com a matriz à direita e a baía sul do lado oposto (Reprodução da pag 417 do Guia)

No resumo histórico sobre a criação de São José da Terra Firme, é lembrado que os primeiros povoadores foram “182 casaes de colonos açoristas para aqui mandados estabelecer no anno de 1750, para cujo pasto espiritual se edificou logo uma igreja de madeira, dedicada a São José, que mais tarde foi reconstruida a pedra e cal, erecta em freguezia por provisão da Mesa de Cosnciência e Ordens, de 18 de fevereiro de 1755”.

Naquele ano, de 1935, São José – segundo o Guia – tinha cerca de 400 casas no perímetro urbano, sendo que “entre as mais importantes contam-se: o palacio municipal, theatro, o convento dos padres franciscanos, o mercado, o club 1º de Junho e a matriz, collocada na parte occidental da pittoresca praça Hercílio Luz”. Os produtos exportados pelo município, através do porto da Capital e do Estreito, eram couros, tapiocas, chifres, sagu, farinha de mandioca, feijão, arroz, aguardente, café, milho, bananas, batatinhas, ovos, aves e frutos. Com o adendo: “Merece menção a fabricação de louça de barro”.

O prefeito josefense na época, era João Machado Pacheco, responsável pela administração da sede e dos distritos de João Pessoa (atual Estreito, em Florianópolis continental), São Pedro de Alcântara, Angelina e Garcia. O município tinha em seu território a Escola de Aprendizes de Marinheiros, o Laboratório Químico Veterinário. O quartel do 14º Batalhão de Caçadores estava em construção no distrito de João Pessoa.

O comércio foi representado pelos empresários (provavelmente aqueles que colaboraram com a confecção do Guia): Ariston Vieira da Rosa, Arnaldo Souza, Benjamin Gerlach, Fulvio Vieira Rosa e Mario Vieira da Rosa (sede); Armando Schmitz, Augusto Koerich, Leopoldo A. Koerich e Irineu Juttel (Angelina) Kiliano Francisco Kretzer (Barro Branco); Bento Aurino de Souza (Forquilhas); João Chappo (Garcia); Alípio Borba (João Pessoa); Eugenio Raulino Koerich (Sant’Ana do Maroim); entre outros.

Da indústria cerâmica são citados os empresários Amancio Ignacio da Silva, Bertolino Silveira de Souza, Joaquim Antonio Medeiros, Virgilino José Ferreira e Irineu da Gama, este instalado em João Pessoa. No entanto havia, pelo menos, 29 olarias registradas em São José naquela época, por isso acredito que consta no Guia apenas os nomes daqueles que colaboraram financeiramente.

Nos demais municípios relacionados, o padrão de citação é o mesmo. Li com muito prazer, sentindo – além do cheiro de papel velho – o sabor indiscritível do saudosismo de lugares que não conheci, mas faço uma ideia de como eram.

Tags

Alberto Entres Florianópolis Koerich Livrara Central São José 

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