O casal de namorados, impedido de casar pelas respectivas famílias, resolveu fazer um pacto de morte: No sábado, ao meio-dia em ponto, os dois – cada um em sua casa para o impacto ser maior – daria um tiro na cabeça, acabando assim, de uma vez por todas, com a aquela agonia.
No dia marcado, cinco minutos antes da hora combinada, é que o rapaz se lembrou que na casa dele não tinha mais armas de fogo. O padrasto havia aderido à campanha de desarmamento do governo e entregou o revólver, a pistola e a espingarda na delegacia. Ficou pensando em alugar uma arma com um traficante de drogas da boca ali perto, quando viu que não tinha dinheiro.
Do outro lado do bairro, a moça decidiu que deveria arrumar as unhas antes de morrer. “O que as amigas diriam no meu velório ao ver que eu estava com as unhas por fazer? ”
Às seis horas da tarde os dois se lembraram do pacto de morte que não aconteceu. Envergonhados, não se encontraram mais e foram felizes para sempre.
Conto V/2024 [Texto inspirado em uma colega que queria ir à manicure porque se ela morresse, o que pensariam dela no velório, com as unhas por fazer? E uma pitada de Shakespeare para romancear a coisa]