21 de janeiro de 2024

Perfis de alguns catarinenses ilustres – A resenha de hoje

Por José Carlos Sá

Pela capa, já era para desconfiar… (Reprodução)

Perfis de alguns catarinenses ilustres (Jornal do Commércio, Rio de Janeiro – 1948) -, eu comprei literalmente pela capa. Não tinha informações sobre o conteúdo ou autor. O meu fornecedor apenas disse que tinha reservado dois livros antigos para mim, e que eram de assuntos que me interessavam. Neste ele acertou parcialmente.

O autor, jornalista Zedar Perfeito da Silva, abusa dos adjetivos e força a amaizade (Foto reprodução do livro /Montagem JCarlos)

Apesar da aparência de desgaste, das páginas amareladas e das bordas carcomidas pelo tempo, o livro é novo. As páginas ainda estavam ligadas umas às outras – aos pares – por um defeito de corte lá da editora. Parece que a guilhotina não estava bem ajustada ou o operador era distraído (para não dizer negligente).

O autor, Zedar Perfeito da Silva, era jornalista e residia no Rio de Janeiro. Tinha estilo laudatório e carregava na mão ao adjetivar os seus personagens. Como diz a Marcela, “forçava a amizade”.

O autor reuniu na obra vários textos que escreveu e publicou no Jornal da Tarde e nas revistas Cruz de Malta e Atualidades, que circulavam em Florianópolis no final da década de 1940. São trinta perfis com a biografia de personagens que fizeram parte da história de Santa Catarina quase anonimamente. Uns, como o cardeal Dom Jaime Câmara e o coronel Benjamim Gallotti, deixaram alguma marca pessoal, outros não constam nem do rodapé dos livros. A contribuição deles ficou reservada aos respectivos círculos social, político e familiar.

D. Jaime de Barros Câmara, josefense, foi Arcebispo do Rio de Janeiro e cardeal nomeado pelo papa Pio XII (Foto reprodução do livro/Montegem JCarlos)

Sobre D. Jaime de Barros Câmara, uma das autoridades catarinenses de projeção nacional à época (o outro era o político Nereu Ramos, vice-presidente da República do general Eurico Gaspar Dutra), o autor destaca fatos da história do religioso, que na época em que o livro foi escrito era o Arcebispo do Rio de Janeiro – então capital da República – e havia sido designado cardeal pelo papa Pio XII. No entanto, Zedar se perde em elucubrações a respeito da responsabilidade que o D. Jaime teria em um mundo que saía da Segunda Guerra Mundial bastante mutilado econômica e moralmente.

Coronel Benjamin Gallotti, liderança na região de Tijucas, escapou de ser fuzilado por Moreira César (Foto do livro/Montagem JCarlos)

Outra personagem destacada e que chamou minha atenção foi o coronel Benjamin Gallotti, italiano de nascimento que se radicou na cidade (vila) de Tijucas (distante 51 quilômetros de Florianópolis) em 1873. Lá se estabeleceu como comerciante, fazendo fortuna pela sua “sagacidade comercial”, se tornando – em consequência – uma liderança “social, política e econômica de Santa Catarina”.

Era respeitado pelos próceres (sempre quis usar essa palavra) políticos catarinenses destacados pelo autor: Lauro Müller, Hercílio Luz, Felipe Schmidt, Vital Ramos, Henrique Valgas, Paula Ramos, Eliseu Guilherme, Emílio Blum, Pereira e Oliveira, Vitor e Adolfo Konder, Gustavo Richard, Germano Wendhausen, Raulino Horn. Coincidentemente ou não, todos estes políticos citados dão nomes a ruas.

Por causa dessas ligações de interesse mútuo, o coronel Gallotti conseguiu escapar do fuzilamento dos insurgentes da Revolução Federalista contra o governo de Floriano Peixoto, em 1893.
A leitura do livro valeu mais como curiosidade e passatempo do que outra coisa.

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