O cadáver permaneceu no canto da sala por mais de três horas em decúbito dorsal, como diziam os antigos repórteres de polícia (ou de barriga para cima, para quem não conhece o jargão). As pessoas passavam pelo corpo – com braços e pernas espalhados pelo chão – dando a volta ou desviando o olhar.
De longe uma sentinela solitária observava. Ela já havia enviado o comunicado à central, e aguardava o pessoal especializado para a remoção do finado.
Logo uma operária em trajes de serviço se aproximou do corpo avaliando a situação. Em poucos minutos outras operárias cercaram o cadáver, e em um estranho cortejo o conduziram à sua última morada.
Os restos mortais da barata foram levados ao formigueiro e a natureza seguiu o seu curso.
[Conto III/2024 – O original desse mini conto foi escrito no início da década de 1980, sob forte influência do noticiário policial que era cheio de gírias e jargões compartilhados por policiais, advogados-de-porta-de-cadeia, repórteres setoriais e bandidos)