Naquele tempo (sempre quis abrir um texto assim) eu trabalhava na equipe do vice-governador Orestes Muniz, que estava secretário de Planejamento de Rondônia. A equipe que atendia ao gabinete tinha mulheres como maioria.
Uma rusga era constante entre elas e o garçom Sabá. Ele ficava bravo pois as colegas usavam as “ferramentas de trabalho” dele, jarras e copos de vidro, para fazer refresco nas tardes quentes de Porto Velho. O garçom era chamado a servir água e café ao secretário ou a algum visitante, e encontrava a louça suja na pia ou a jarra cheia do “quissuco” – às vezes era daquele de “uva”, que deixava marcas no vidro de tantos produtos químicos que continha. Sabá reclamava comigo – o que não resolvia nada -, com o chefe de gabinete, com as próprias colegas e a situação não mudava.
Em uma manhã calma (o secretário viajara), o Sabá estava na minha sala lendo os jornais quando chegaram os primeiros relatos de uma “epidemia de piriri” que estava assolando o gabinete. Todas as funcionárias já tinham ido, pelo menos, duas vezes ao banheiro! O que seria?
Sorrindo, Sabá me contou sua vingança: não havendo acordo para as colegas não sujarem o “kit de servir água”, ele bolou uma solução ao mesmo tempo pacífica e mefistofélica. Depois do expediente, ele passou em uma farmácia e pediu ao balconista o laxante mais poderoso que tivesse na botica. No dia seguinte, sem aviso prévio, o Sabá derramou o remédio na jarra e a deixou secar, depois a colocou no lugar habitual e esperou o efeito.
Eu perguntei por que ele colocou a jarra com o remédio para secar. Piscando um dos olhos, segredou: “Era para que ninguém percebesse que a jarra estava ‘batizada’ e a usassem para fazer o refresco delas. Espero que tenham aprendido a lição!”
O pior é que não aprenderam, mesmo sabendo da sabotagem do garçom.