Peço emprestado ao Gilberto Gil os versos “se a noite inventa a escuridão, a luz inventa o luar” (Luar, 1989) para usar como prefácio.
Hoje iniciei o dia lendo a crônica “A lua não engana ninguém”, do polêmico* jornalista e escritor português Miguel Esteves Cardoso, publicada na coluna “Ainda ontem”, no jornal lisboeta Público, (edição de 28 de outubro de 2023). No texto, MEC, como é conhecido em seu país, defende a teoria de que a lua só é bonita se vista a olho nu, daqui da Terra. De perto, não é prateada, como cantam os poetas, mas “(…) descobrimos uma pele amarelada e cheia de crateras, à qual um truque genial de luzes emprestou uma juventude inteiramente ilusória.”

O texto do cronista português me fez lembrar um dito minerês: “De longe é um anjo, de perto um desarranjo” (Foto pixabay.com/qimono)
Ele defende a tese de que o nosso satélite natural seria mais idoso do que imaginávamos, e se vale de uma pesquisa assinada pelos cientistas Jennika Greer e Philipp Heck, em que afirmam que a lua “tem mais 40 milhões de anos do que se pensava”. A idade real seria de 4,46 bilhões de anos, o que, para o cronista português, equivaleria a uma propaganda enganosa. O estudo afirma que a lua é um pedaço da Terra que se desprendeu após o choque de um objeto gigante, quando o sistema solar era jovem e o nosso planeta ainda estava em formação.
“Considerando que um milhão de anos cósmicos corresponde a um ano humano, isso equivaleria a descobrir que aquele pêssego de 27 anos, que lhe pisca o olho do palco do Rivoli [Teatro Municipal do Porto], já vai com 67 primaveras no cartório.” Então o antirromântico Miguel conclui: “Quando os namorados olham aluadamente para a Lua – que doravante se chamará a avozinha -, saberão que estão a olhar para uma unha velha perdida no espaço, cortada há muito tempo.”
Para mim, saber a idade da lua, não altera nada. Prefiro continuar com a sugestão do Gil, que abriu este texto e que propõe: “Já que existe lua / Vai-se para rua ver / Crer e testemunhar…”