16 de outubro de 2023

Jornal Nacional: a influência da mídia nas eleições brasileiras – A resenha de hoje

Por José Carlos Sá

O tratamento jornalístico dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (esq.) foi mudando de quando era candidato em 2018 e já na presidência da República, no período da pandemia (Foto Reprodução TV Globo)

O tema e o objetivo do livro já estão explícitos no extenso título: “Jornal Nacional – Um ator político em cena – Do impeachment de Dilma Rousseff à eleição de Jair Bolsonaro: as bases da construção da narrativa jornalística que legitimou processos políticos na recente história brasileira” (Editora Meraki, Salvador – BA, 2022). O texto é o trabalho final apresentado pela autora, jornalista Eliara Santana, para obtenção do título de doutora em linguística e língua portuguesa pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Minas Gerais, e é resultado da análise das edições diárias do Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão de 2013 a 2019.

Neste período o Brasil teve três presidentes da República: o segundo mandato de Dilma Rousseff; a assunção provisória do vice-presidente Michel Temer, que depois assumiu definitivamente até 1º de janeiro de 2019; e a chegada de Jair Bolsonaro. 

A autora entende que a editoria do telejornal foi se adequando às necessidades mercadológicas e de interesse da empresa (Grupo Globo) e, por isso, dava pesos diferentes para cada assunto noticiado usando não o critério jornalístico do que o público deveria saber, mas o que convinha ao grupo ao qual a empresa pertence. Essa “adequação” era feita com o uso de palavras apropriadas, com a super a ou subexposição de determinados temas, a escolha dos cenários – cores e ilustrações -, gráficos, a fonte da notícia (quem declara o quê) e o tom de voz e postura dos apresentadores.

Segundo a autora, as palavras eram cuidadosamente escolhidas ao noticiarem as manifestações contra a presidente Dilma (Reprodução do livro)

Os exemplos dados são muitos, passando pelas manifestações contra a presidente Dilma e o processo de impeachment dela, o “namoro” com a administração Temer e a “ajudinha” na campanha para a Presidência do então candidato Jair Bolsonaro e logo no início do governo dele. A partir da pandemia, o tratamento mudou e (isso não está no livro) contribuiu para o retorno de Lula à Presidência da República. São vários ciclos que vão se sucedendo de acordo com a conveniência da hora. 

O cenário usado para as notícias relacionados à Operação Lava-Jato teriam a cor vermelha para relacionar os atos de corrupção ao PT (Reprodução do livro)

Destaco também as insinuações sobre uma relação promíscua entre o jornalismo da TV Globo e a Justiça com relação à Operação Lava-Jato, que culminou com a prisão do ex-presidente Lula, em 7 de abril de 2018. O livro não menciona, porém, se a corrupção de autoridades públicas por empresas privadas – especialmente empreiteiras – foi real ou inventada.

O que se conclui é que a Rede Globo de Televisão é igualmente xingada pela direita, pela esquerda e pelo centrão.