13 de outubro de 2023

Carvão, um drama sobre hipocrisias familiares – A resenha de hoje

Por José Carlos Sá

A personagem Irene (Maeve Jinkings) busca uma saída para a dificuldade financeira da família (Divulgação)

No final do feriado chuvoso, dia de Nossa Senhora Aparecida, assistimos ao filme Carvão (Pandora Filmes, 2022) e eu não dormi direito. O que vi na tela incomodou.

A história se passa com uma pequena família que produz carvão vegetal no interior do Brasil. Com pouca grana e tendo um idoso entrevado para cuidar, recebe a proposta para abrigar um  traficante de drogas em um – digamos – ‘programa de proteção à testemunha’ genérico. Ao aceitar a oferta, ganha dinheiro, mas também desestrutura ainda mais o núcleo familiar, cujos segredos são expostos de uma forma crua e sarcástica.

O agente do desarranjo familiar, um traficante de fala castelhana, também não se adapta à casa simples, de poucos cômodos. Acostumado que era com a mansão em que vivia, e é mostrada no início do filme para destacar o contraste, ele precisa compartilhar o mesmo banheiro com os demais moradores e dormir no quarto com o filho de nove anos do casal.

São de contrastes e mentiras que a trama é feita, além do humor mordaz a que me referi, ainda tem a repressão sexual e o choque que a mudança de comportamentos traz a uma família que já não era bem equilibrada.

“… se fosse maconha…” (Reprodução fotograma JCarlos)

Uma cena em particular me fez rir amarelo. A diretora da escola chama os pais do menino para dizer que encontraram uma pequena porção de cocaína na mochila escolar. A professora (Edneia Cruz) fala aos pais: “Se fosse [encontrada] maconha…, mas cocaína é uma droga muito forte para uma criança de nove anos!” Comentei em voz alta: – Quer dizer que se fosse maconha podia, mas cocaína, não?!

Irene (a dona de casa), que já foi “miss”, pensa em seduzir o hóspede. Vai ao salão dar um retoque no cabelo, compra um perfume sensual e ouve a sugestão para comprar uma lingerie especial, uma calcinha comestível da “edição festa junina” sabor “pamonha”. O filme foi rodado e há referências à cidade de Joanópolis, Capital do Lobisomem, por onde já passamos.

O filme merece o prêmio que recebeu pelo roteiro no Festival do Rio, em 2022. A direção e roteiro são da paulista Carolina Markowicz e o elenco (completamente desconhecido para mim) tem como atores Maeve Jinkings, César Bordón, Jean Costa, Camila Márdila, Romulo Braga, Pedro Wagner, Aline Marta.

Vale a pena assistir e o jeito mais fácil é na Globoplay.

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