Eu soube desse filme no mês de setembro, quando El Conde (Netflix, Chile, 2023) foi premiado no Festival de Cinema em Veneza como melhor roteiro. Fiquei satisfeito ao saber que a Netflix iria exibir a película a partir do dia 15 daquele mês, na semana que se completariam 50 anos do golpe militar no Chile, quando o então presidente eleito Salvador Allende foi derrubado, sob acusação de ser comunista. Assumiu o poder o general Augusto Pinochet.
Fiquei frustrado pois o streaming me enganou e não cumpriu a promessa. Durante muitos dias a Netflix exibia apenas o cartaz e o trailler do filme. Ou seja, o efeito histórico – do lançamento na semana do cinquentenário – que eu esperava, evaporou.
O filme é classificado pelos críticos como comédia, terror, sátira e até como “autobiografia”. O diretor, e um dos roteiristas, Pablo Larraín não faz acusações diretas a Pinochet – que é retratado como um vampiro de 250 anos, cansado de viver e de ser odiado por causa dos crimes que praticou.
A lista das atrocidades e corrupções cometidas pelo regime ditatorial chileno entre 1973 e 1990 não são apresentadas diretamente, mas lidas por uma personagem como se fossem “difamações” lançadas pela oposição ao ditador e a seus familiares, acusados de aproveitarem do poder para se locupletar (eita palavrinha!).

Uma “vitamina” de coração recém-retirado do peito da vítima, para o vampiro ficar fortinho (Fotograma Netxflix)

A criatura no cinema e aquela que a inspirou (Fotos Netflix/Divulgação e Santiago Llanquin/AP, Santiago, Set 1988 Reprodução)
Gostei dos efeitos da fotografia, com paisagens lúgubres e sombrias – Santiago e o local onde o protagonista mora -, que em preto e branco, ficaram próprias para um filme de vampiros. Aliás, o figurino usado pelo vampiro El Conde é baseado em uma foto que o diretor Larraín viu do general Augusto Pinochet quando ele estava no poder. A metáfora nem é disfarçada.
Recomendo.