A nossa visita lá foi quase que improvisada, pois a comunidade quilombola São Roque não faz parte dos roteiros turísticos e “do que fazer em Praia Grande”. O local fica a cerca de 20 quilômetros do centro e é o início da Trilha da Pedra Branca. As únicas coisas que eu sabia sobre o local é que a visitação era permitrida e que a estrada era “boa”, sem o perigo de “atolação”, como informaram na cidade.
A Terra Quilombola fica sob os Parques Nacionais da Serra Geral e dos Aparados da Serra. Não, eu não escrevi errado. É “sob” mesmo, já que os Parques foram criados posteriormente e as áreas de preservação estão sobrepostas à região reivindicada pela comunidade como território tradicional, remanescente de um quilombo existente desde o século XIX, numa área de aproximadamente 7,3 mil hectares. O processo está nas embuanças na Justiça, em que o ICMBio não abre mão das multas que são aplicadas regularmente aos quilombolas que precisam fazer lavouras de subsistência.
Quem nos recebeu foi o seu Eliseu Santos Pereira, que atua como guia comunitário, levando os visitantes (ele prefere esta palavra à “turistas”) pelas trilhas até a Pedra Branca, uma formação rochosa que dava nome ao lugar. Eliseu é bisneto de um casal escravizado, formado por um africano e uma indígena Kaingang, “que foi pega a cachorro e escravizada também”. Atualmente ele oferece os serviços de guia e hospedagem (camping) através da empresa Ubuntu Ecoturiosmo (@ubuntuecoturismo no Instagram).
Visitamos um lajeado formado à margem do rio Josafaz, onde existe uma piscina natural. Depois fomos até a praia formada pela foz dos rios Josafaz e “São Gorgonho” (São Gorgônio), onde se juntam ao rio Faxinalzinho e formam o rio Mampítuba, que vai desaguar no Oceano Atlântico nas proximidades da cidade de Tubarão.
Na saída encontramos o senhor Vilson Nunes – outro descendente de escravizados -, cujo sobrenome foi adotado pelos antepassados de uma das três famílias de escravistas, donss das fazendas que existiam na região nos séculos 18 e 19. As outras famílias que “emprestaram” os nomes aos escravizados eram os Fogaça e os Monteiro. Seu Vilson mora sozinho na casa em que os avós dele ocupavam e que ainda não dispõe de luz elétrica, justamente por causa da tramitação judicial.
Gostamos muito do quilombo e já nos comprometemos a voltar com mais tempo para visitar os atrativos naturais e conhecer mais a história da comunidade.