O profeta Moisés, autor putativo do Livro do Gênesis, primeiro “episódio” da Bíblia, foi sábio ao contar a história de Adão e Eva. Segundo as Escrituras, Deus (ou Iavé) teria dito ao homem para não comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas a serpente tentou e a mulher colheu, provou o fruto e levou a seu marido. Pela desobediência, foram expulsos do Éden e deu nessa disgraceira que todos conhecem. Mas sábio por que, ô Zé?
Calma, eu explico.
A empresa Apple, a multinacional norte-americana fabricante de computadores, telefones celulares e outras tranqueiras informáticas, resolveu proibir a utilização, mesmo que de forma estilizada, da imagem da maçã. Para isso tem aberto processos contra outras empresas no mundo todo, alegando ter propriedade intelectual sobre a marca. Lembrando que a logomarca da Apple é a representação da silhueta de uma maça mordida em um dos lados.
O processo mais recente e que trouxe o assunto à tona esta semana foi uma demanda contra a Fruit Union Suisse, cujo símbolo é uma maça vermelha com uma cruz branca em um dois lados do desenho (simbolizando a bandeira nacional suíça). Os jornais informam que o pomar todo está ameaçado: “Em 2020, a empresa entrou com uma ação nos EUA contra o aplicativo Prepear, que usava uma pera como identidade visual”, lembra o Estado de S. Paulo na edição do dia 20 de junho. Mas em 2017 já havia uma contenda entre a multinacional e outra empresa suíça, que tinha como marca a representação em preto e branco de uma maçã da espécie Granny Smith (que é da cor verde e mais amarga, usada em saladas).
Apagando a maçã da história

No sentido horário: Demanda da Apple com a Suiss Fruit; Expulsão de Adão e Eva; Hércules recebe os pomos de ouro das Hemérides; Guiilherme Tell, herói suiço e o “Pomo de Adão (Imagens Reprodução internet)
Se isso for avante essa iniciativa da empresa fundada por Steve Jobs, a história da humanidade terá que ser recontada e um dos painéis pintados por Michaelangelo na Capela Sistina, no Vaticano, terá que ser refeito, pois nele a maçã está envolvida pessoalmente.
Na Bíblia – trecho citado acima – não é dito que a fruta da árvore do bem e do mal era uma maçã, mas o senso comum universal a elegeu como o objeto da tentação. A Mitologia Grega traz o mito do Hércules, que teria que realizar penitência dividida em 12 trabalhos, todos ditos impossíveis. O sexto deles era “colher os pomos [maçãs] de ouro dedicadas à deusa Juno, que eram vigiadas por um dragã”. A Teoria da Gravidade de Isaac Newton não seria a mesma se ele não tivesse tirado um cochilo sob uma macieira. Um dos heróis lendários da Suiça, Guilherme Tell, teria que provar sua pontaria colocando outra fruta na cabeça do filho para acertá-la com uma seta.
Até a música brasileira teria que mudar algumas letras de muitos sucessos do cancioneiro popular (Eita!), como o xote “Tem pouca diferença”, do Jackson do Pandeiro. Um verso diz assim: “(…) No paraíso, dia de manhã / Adão comeu maçã e Eva também comeu / Então ficou Adão sem nada e Eva sem nada / Se Adão deu mancada Eva também deu (…)”.
Por fim, teria que haver mais uma mudança na nomenclatura das partes do corpo humano, especialmente as do homem. O pomo-de-adão, maçã-de-adão ou gogó, teria que ser conhecido apenas pelo nome científico, que é “proeminência laríngea” ou “cartilagem tereóide”! Vai perder a graça.

O selo que lançou The Beatles no mun do, tamb´[em em demanda judicial pela marca da maçã (Divulgação)
Pensei nisso tudo ao comer, no café da manhã de hoje, uma fatia de cuca de maçã!