Comprou uma cômoda de madeira no antiquário, mais pela aparência do que por necessidade. Em casa resolveu restaurar o que fosse possível e depois envernizar. Pensou em usá-la como aparador.
Retirou as gavetas para limpar o móvel. Embaixo do tampo notou uma saliência que era difícil de ser notada. Era uma gaveta secreta e ele teve dificuldades em abri-la e quanto mais tentava, mais aumentava a curiosidade de saber o que havia sido encerrado ali.
Finalmente ouviu um clique e a gaveta deslizou suavemente alguns centímetros para fora. Prendendo a respiração, se preparou para desvendar um segredo que alguém ocultou há, sabe-se Deus, quantos anos. Quem teria sido o dono ou a dona daquela antiguidade e o que teria escondido em um compartimento oculto?
As mãos tremiam quando puxou a gaveta totalmente para fora. Partículas de poeira evolaram enquanto a luz do sol iluminava o conteúdo esquecido ali. A ansiedade foi substituída pela decepção. Nada de objeto de valor, mas um bom material para tentar traçar o perfil do antigo dono do móvel.
Em um caderninho anotou o que foi encontrado na gaveta oculta:
– Um camafeu
– Um pedaço de renda amarelada
– Uma medalha da 1ª Guerra Mundial (apenas o metal esmaltado)
– Uma pagela de calendário do dia 4 de dezembro (ano não mencionado)
– Um bilhete dobrado. O papel era tão velho que parecia se quebrar a qualquer momento
– Um grampo de metal com um fio de cabelo preso nele
– Uma luva de seda sem o par
– Duas moedas de Réis
– Um toco de lápis com a ponta quebrada
– Uma certidão de batismo com os dados do dono já apagados pelo tempo
Depois que terminasse a restauração da cômoda iria investigar de onde vieram aquelas estranhas relíquias e que reminiscências guardavam.
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Conto escrito a partir de um exercício da Oficina de Escrita Criativa que participei.