Ler este livro foi como fazer uma viagem a recordações de um passado não muito distante. Eu não vivi diretamente essas histórias (exceto o Movimento Diretas Já) e fui um mero coadjuvante contemporâneo dos fatos.
O autor, jornalista, professor e escritor Itamar de Oliveira usou um estilo em que parece prosear com o biografado, contando a ele o que as pessoas disseram a seu respeito. O resultado é muito bom, parece uma conversa ao pé do fogão a lenha, entre um gole de café e uma mordida no pão de queijo ou numa broa de milho.
Para quem gosta de política, como eu, o livro traz todos os bastidores das campanhas das quais Hélio Garcia participou. O homem foi deputado estadual, deputado federal, vice-governador de Minas Gerais – e nessa condição foi prefeito nomeado de Belo Horizonte -, assumiu como governador, fez o sucessor e depois voltou para mais um mandato no Palácio da Liberdade. Hélio Garcia morreu em 6 de junho de 2016.

Hélio Garcia em três momentos: Em um comício; com o Milton Nascimento e entre duas “raposas” da política mineira: Magalhães Pinto (esq) e Tancredo Neves (dir) (Fotos reprodução do livro)
A campanha das Diretas Já, com o engajamento das forças políticas mineiras (inclusive de situação ao governo federal), foi fundamental para a redemocratização do país e Hélio Garcia estava lá, nos conchavos, no pé da orêia, no maior “comiquieto”.
Entre os entrevistados, um lembrou o apelido que Hélio Garcia ganhou quando foi prefeito de Beagá: Dodge Dart – “Grande, ocupa duas vagas (vice-governador e prefeito), bebia muito, não pegava pela manhã e já foi bonito”. Hélio Garcia, apenas fazia uma ressalva à descrição: – Eu sou bonito!
Hélio Garcia e eu
Aproveito para contar novamente o meu encontro com o então governador Hélio Garcia. Fui cobrir a abertura de exposição agropecuária e dei de cara com o homem, que no dia não estava para conversa (agora eu soube os sinais pelo livro).
Eu o entrevistei duas vezes para a TV Alterosa. A primeira foi traumática. Como eu não cobria política, sabia “por cima” o que estava acontecendo. Era um sábado e eu fazia uma matéria besta qualquer. Pelo rádio, a redação mandou que eu fosse para o Parque da Gameleira – onde aconteciam as exposições agropecuárias, pois o governador estava indo para lá. Comecei a tremer as pernas, pois Hélio Garcia respondia perguntas idiotas com ‘coices’.
Por sorte, encontrei o colega Jadir Barroso, que era correspondente do Jornal do Brasil. Pedi uma dica, um assunto, para perguntar ao governador. Ele respondeu que não lhe ocorria nada naquele momento. Uma luz divina, porém, iluminou meu cérebro e lembrei da contenda sobre a aprovação do orçamento, que estava gerando discussão na Assembleia Legislativa.
O governador chegou, desceu do carro, nos cumprimentou, fiz sinal para o cinegrafista ligar a câmera e lasquei a pergunta:
– Governador, como o senhor vê a pressão dos deputados para que o orçamento seja alterado?
Ele olhou para mim, enfiou a mão no bolso do paletó, tirou o maço de cigarros, pescou um, colocou na boca e acendeu (isso tudo olhando fixo para mim e eu esperando um coice com as duas patas, digo, os dois pés).
– No meu dicionário não existe a palavra pressão!
Respondeu e foi embora.
Quando cheguei à TV na segunda-feira à noite, fui cumprimentado pela editora-chefe. A entrevista foi ao ar no Jornal da Alterosa, ao meio-dia e provocou o maior rebuliço na Assembleia.
E eu nem apanhei… (Post Banzeiros de 06062016)
Li a 2ª edição, da Páginas Editora, Belo Horizonte, 2022. Ah! E o livro foi presente da minha colega da turma de Jornalismo de 1981, Gláucia Albernaz