Enquanto o STF decide se coloca em votação o polêmico Marco Temporal, que garante aos povos indígenas as terras que eram ocupadas até a promulgação da Constituição de 1988, um artista catarinense busca preservar um dos aspectos da vasta cultura indígena: a cerâmica.
Jone Cézar de Araújo, natural de Morro da Fumaça, cidade da região carbonífera de Santa Catarina, vem pesquisando há 15 anos a cerâmica utilitária dos povos indígenas, especialmente a Guarani, existentes em todo território catarinense, do extremo-oeste ao litoral e povos de etnias distintas em outras partes do Brasil, como no Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, por exemplo.
Ele também faz pesquisa a partir de peças arqueológicas que foram recolhidas e estudadas pelo padre jesuíta João Alfredo Rohr, que é considerado “o pai da arqueologia catarinense”. Jone tem um acervo de mais de três mil peças, entre originais recolhidas ou compradas, e cópias confeccionadas a partir de pesquisa sobre a argila, as misturas feitas à massa, as ferramentas, o método de queima, os pigmentos e o tipo de acabamento das peças.
As peças são amostras da arte indígena arqueológica brasileira contemporânea. A partir da pesquisa em muitas regiões do Brasil, Jone viu que, com a chegada dos europeus, os povos indígenas adaptaram sua produção às novas técnicas e necessidades – como panelas de fundo reto para as chapas de fogão, por exemplo, já que os utensílios utilizados pelos povos primitivos tinham fundos abaulados para colocar nas fogueiras.
“Mas ainda tem povos em não houve mudança na confecção da cerâmica. É a mesma coisa há mais de mil anos, ou, quem sabe, até mais”, destaca Jone. “A proposta da exposição é mostrar, aproveitando o Dia dos Povos Indígenas [comemorado a 19 de abril], a riqueza destas técnicas, destas idéias estéticas magníficas, entre as quais eu incluí meu trabalho de muitos anos de pesquisa”.
O artista
Conhecido por montar os presépios na praça XV de Novembro, no centro histórico de Florianópolis, há mais de 20 anos, Jone Cézar é um multi artista, com exposições e prêmios nacionais e internacionais com fotografias, pintura, cerâmica e colagens. Recebeu centenas de prêmios e mantém em seu ateliê no bairro Itacorumbi uma oficina onde ensina as técnicas da cerâmica indígena.
Quando o conheci pessoalmente, por intermédio dos amigos Osmarina e Paulo Villalva, soube que o Jone morou em Ji-Paraná (RO), onde participou do I SART (Salão de Artes Plásticas de Rondônia), em 1992.
Serviço:
O quê: Exposição “Cerâmica Indígena Brasileira” com peças dos povos Terena, Karajá, Juruna, Marajoara, Kadiwel, Assurini e Guarani
Onde: Centro Cultural do Continente Franklin Cascaes, Avenida Engenheiro Max de Souza – ao lado do Parque de Coqueiros
Quando: De segunda a sexta-feira, das 13 às 19 horas até o dia 18 de maio
Entrada gratuita

Peças confeccionadas a partir de pesquisa da cerâmica Guarani (SC), decoradas com acabamento ungulado (usam as pontas dos dedos para decorar a peça) – Jone Cézar de Araújo, 2002 (Foto JCarlos)

Peças confecionadas usando as tecnicas dos ceramistas Guarani (SC), Jone Cézar de Araújo, 2017 (Fotos JCarlos)

Peças produzidas por indivíduos do povo Marubo (PA). Eles usam cinzas na mistura com o barro, deixando a louça bastante leve. 2006 (Foto JCarlos)