Eu tenho uma péssima mania ligada à aviação. Quando acontece um acidente aéreo, por menor que seja a aeronave, eu leio tudo o que tiver disponível sobre o assunto. Depois, quando vou viajar de avião, fico lembrando de tudo que li e à menor turbulência já penso que a minha hora chegou.
Imaginem como estará minha cabeça na próxima viagem, depois de ler o livro “O último vôo do C-47 2023 – O desastre aéreo que abalou o Brasil” (Editora Appris, Curitiba/2022), do professor, escritor e montanhita Sílvio Adriano Cardoso.

Empenagem do C-47 2023 na vertente Leste do Morro do Cambirela em 1949 Biblioteca Central Padre Aloísio Kolberg
A obra consumiu anos de pesquisas, entrevistas e levou o autor a escalar o Morro do Cambirela, em Palhoça, várias vezes até encontrar o local exato onde o avião da Força Aérea Brasileira, a serviço do CAN (Correio Aéreo Nacional), se chocou na tarde de 6 de junho de 1949. No acidente morreram os 28 ocupantes do C-47, sendo seis tripulantes e 22 passageiros, entre militares – da Força Aérea, Exército e Marinha – e civis. O avião fazia a rota Rio de Janeiro -RJ a Uruguaiana – RS.

O autor aponta o local onde o avião do Correio Aéreo Nacional se chocou na Pedra da Bandeira – Morro do Cambirela (Frame de vídeo/Silvio Adriani Cardoso)
Sílvio fez um levantamento minucioso sobre o avião – desde a sua fabricação até o acidente -, sobre cada uma das vítimas, o pessoal envolvido no resgate dos corpos e a cobertura da imprensa na época. Também conseguiu simular como teria ocorrido a decolagem, minutos antes de acontecer a tragédia, em uma tarde de chuva e nuvens baixas. Não é preciso dizer que naqueles tempos os instrumentos de controle e orientação aérea eram muito precários. Há também capítulos sobre a aviação em Santa Catarina, o Morro do Cambirela e como o autor se envolveu com esse assunto.
O esforço desprendido pelo autor valeu a pena, pois faz com que o leitor se sinta participando dos trabalhos de resgate, se abale emocionalmente com a cena do local do acidente, experimente (ao menos mentamente) o esgotamento físico dos militares que subiam e desciam os 800 metros da base à Pedra da Bandeira em busca de sobreviventes e, depois, transportando os corpos; também dá para ouvir o choro dos familiares e amigos das vítimas. Os detalhes são minuciosos e compõem, ao final, um quadro tétrico, chegando à conclusão que a causa do acidente foi uma combinação de fatores atmosféricos e azar. Muito azar.
No próximo sábado, dia 15, o autor participará dos eventos de inauguração da Casa de Cultura Laudelino Weiss, quando haverá uma sessão de autógrafos e lançamento de livros no Sarau Literário, a partir das 14 horas. A Casa de Cultura fica na avenida Barão do Rio Branco, 223, no centro de Palhoça.