Estava esperando o ônibus e vi um pedaço de cobogó (ou tijolo vazado/bloco vazado/elemento vazado ou sei lá como chamam), parte de algum entulho de construção. O fragmento tinha o formato de uma cruz. Ao lado do caco de cimento, um montinho de terra deixado pelo pessoal da Prefeitura alguns dias antes. Imediatamente me abaixei e coloquei a cruz sobre o morrinho, imitando uma campa. Pronto, criei um cenário.
Para completar a fantasia, declamei mentalmente uns versos do poema “A cruz da estrada”, do poeta romântico e abolicionista Castro Alves, que foi leitura obrigatória nos meus tempos de Grupo Escolar, lá pela década de 1960. Diz o verso:
Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz dormir na solidão.
O ônibus veio e os meus devaneios se foram.