Participei na manhã de sábado (18) de uma atividade que acredito ter sido histórica. O evento ‘Celesc Portas Abertas’ me proporcionou a oportunidade de conhecer por dentro a antiga Usina Maruim, que foi desativada em 1972. A geradora será toda reformada e voltará a produzir energia elétrica a partir do primeiro trimestre de 2024.
O prédio, de arquitetura no estilo inglês (a empresa construtora era inglesa), tem aparência sólida, impressão que se desfaz ao olhar o teto, cuja cobertura de placas de amianto está toda furada devido – acredito – a pedradas da molecada. O que restou do equipamento – uma turbina e canos de ferro – está enferrujado.
Sem funcionar há mais de 50 anos, a usina tem em seu portfólio dois títulos importantes: Foi a segunda usina elétrica implantada em Santa Catarina (a primeira foi a Usina do Piraí, em Joinville, inaugurada em 1908) e “depois de inaugurada, se tornou a terceira mais importante do país na geração de energia elétrica”, conforme o folheto distribuído pela Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina), mas que eu não consegui descobrir quais as outras duas geradoras da época.
A Usina Maruim funcionou ininterruptamente por 65 anos de atividade, sendo desligada apenas aos domingos pela manhã, quando os funcionários faziam a limpeza e desobstrução das comportas e a manutenção das turbinas.
Tudo será novo: as duas turbinas (500kW cada), tubulações, subestação e painéis de proteção e controle, além dos equipamentos de comunicação. As empresas fornecedoras dos equipamentos são catarinenses, como por exemplo, a Progressul Sistemas de Energia, de Schoroeder, e a Hydrokan, de Herval d’Oeste. A capacidade de geração instalada será de 1.000kW (Kilowatt). Também serão reformadas as estruturas existentes, como a barragem, os canais de adução, a câmara de carga e a casa de força. O prédio histórico, que é tombado como Patrimônio Histórico, Cultural e Natural do Município, será revitalizado.
Inspeção

Seu Aurindo contou que os irmãos dele trabalharam na usina até se aposentarem. Atrás dele a turbina original que sobreviveu aos vândalos (Foto JCarlos)
Enquanto eu ‘inspecionava’ o que sobrou da única turbina – das três instaladas originalmente -, se aproximou de mim Aurindo Domingos, de 73 anos, e que mora no bairro Sertão do Maruim, ali perto. Ele contou que os dois irmãos dele, Dauri e Rogério, trabalharam na usina por muitos anos como maquinistas. Um deles continuou prestando serviços após o desligamento da hidrelétrica, fazendo a limpeza do terreno até se aposentar. Seu Aurindo acredita que foi depois que o irmão dele deixou o trabalho, que muitas peças foram roubadas e aconteceram os apedrejamentos do telhado.
Conversei também com Fred Querino, diretor comercial da empresa Progressul Sistema de Energia, que fornecerá os sistemas elétricos para a nova CGH (Central Geradora Hidrelétrica) Maruim. Perguntei se a vazão do rio Maruim é suficiente para girar as duas turbinas e se as “mil” licenças necessárias estão devidamente solicitadas. Ele disse que sim, que está animado com o cumprimento do cronograma e que a geração de energia se dará ainda no primeiro trimestre de 2024, conforme o previsto.
Duas histórias

Registro da inauguração da Usina Maruim, em 1910. Infelizmente não consegui a identificação de quem aparece na foto (Acervo Fundação de Cultura PMSJ) ADENDO: “Aquele de paletó e chapéu claros da foto do Registro da inauguração da Usina Maruim, em 1910, é meu bisavô, José João Kowalski, o primeiro administrador da Usina” Simone Kowalski Schmitz .
A história conta que o então governador de Santa Catarina Gustavo Richard (1906/1910) queria resolver o problema da falta de energia na capital e ao saber da passagem de navio inglês que instalava cabos submarinos de telégrafos pela América do Sul, foi a bordo e conversou com os profissionais para saber a viabilidade de trazer luz elétrica para Florianópolis. Entre os profissionais estava o engenheiro argentino Miguel Villa Real Vela que, após concluir a instalação dos cabos telegráficos, retornou a Santa Catarina, projetou e coordenou a construção sob responsabilidade da empresa Simmonds & Saldanha. A inauguração foi em 25 de setembro de 1910.

O neto do projetista da usina de Maruim, José Ferreira da Cunha, em entrevista ao jornal ND (Marcela Ximenes 11022020/Reprodução)
Enquanto ainda era repórter regional, Marcela realizou uma entrevista com o aposentado José Ferreira da Cunha, que na ocasião buscava o reconhecimento público para o avô dele, o engenheiro Miguel Villa Real Vela, responsável pela implantação da Usina Hidrelétrica Maruim, em 1910. Ferreira contou que a energia produzida lá no Sertão do Maruim, interior de São José, chegava à Ilha de Santa Catarina através de cabos submarinos, permitindo a instalação da iluminação pública e, depois, gradualmente, a luz elétrica chegou às residências dos menézinhos.
Na época da reportagem José Ferreira desabafou: “Nem mesmo uma rua recebeu o nome dele, que tanto fez pela cidade. Florianópolis, principalmente, deve isso ao engenheiro Miguel Vela”.
P.S. Solicitei à assessoria de imprensa da Celesc algumas informações técnicas da nova usina, mas até o fechamento deste post não recebi retorno.
Abaixo algumas fotos que fiz na visita-inspeção
P.S. Texto atualizado às 21h11, com informações fornecidaa pela Assessoria de Imprensa da Celesc