Há algum tempo a Marcela se engajou na causa dos animais domésticos abandonados. Para colaborar, ela participa de eventos cuja renda é revertida em beneficio dos bichinhos, faz doações, adota (temos duas criaturinhas nesta situação) ou recolhe tampinhas plásticas, que são levadas a um posto de coleta. O material coletado é direcionado à ONG Ecopet, que vende as tampinhas às empresas de reciclagem. O valor arrecadado é investido na castração de cães e gatos.
Além de catar tampinhas, a Marcela também é uma divulgadora dessa ação, incentivando outras pessoas – inclusive eu – a também colaborar com a saúde dos animais abandonados nas ruas, o que se vê muito aqui na nossa cidade.
No meu caso, eu recolho as tampinhas que encontro nas minhas caminhadas do ponto de ônibus até a academia e por onde passo. Ao contrário da Marcela, ainda não cheguei ao estágio de atravessar a rua ou resgatar tampinhas em garrafas que estejam em lixeiras. No entanto, em um evento a que participei neste final de semana, quando algum dos colegas aparecia com uma garrafinha de água mineral, eu não o perdia de vista para saber onde descartaria a garrafa para eu recuperar a tampinha.
A catação de tampinha tem tantos adeptos pelo país que virou assunto no Jornal Nacional de ontem (6/3).
Outros catadores
Enquanto seguia com os olhos as tampinhas ainda nas garrafas de água dos participantes do evento, me lembrei de uma situação que presenciei há quase 19 anos. A empresa em que eu trabalhava tinha um estande na Expovel – Exposição Agropecuária, Industrial e Comercial de Porto Velho.
O parque de exposições da capital rondoniense e a superintendência do Incra ficam na mesma avenida, um defronte ao outro. Naquele ano, trabalhadores sem terra estavam acampados no estacionamento do instituto. Nos dias de exposição, os portões eram abertos durante o dia para entrada gratuita e os ingressos começavam a ser cobrados depois das 18h.
As crianças que estavam acampadas com os pais, não tendo o que fazer, atravessavam a rua e ficavam perambulando pelos estandes (aproveitavam para pedir brindes aos expositores) até iniciar o movimento dos bares e restaurantes que se transferiam para o parque durante a festa. Aí que começava a função. Grupos de crianças catavam latas de refrigerantes e de cerveja para vender depois.
Elas não se contentavam em pegar as latinhas que já tinham sido descartadas. Quando imaginavam que o cliente do bar havia dado o último gole, se aproximavam, pegavam a lata e a chacoalhavam. A confusão foi tanta que a organização do evento proibiu a entrada de menores desacompanhados.
Em anos seguintes, foi feito um convênio com a associação dos catadores de recicláveis, que passou a ter a exclusividade na coleta das latinhas de alumínio.