É muito comum ouvirmos e vermos repórteres conduzindo entrevistas seguindo o roteiro sugerido ao pé da letra, sem ouvir as respostas dadas. Leem a pauta sem se importar se a resposta da questão foi dita anteriormente. Há também aqueles que tratam o entrevistado como suspeito e conduzem a entrevista como se fosse um interrogatório policial. E existe um terceiro caso em que a pessoa lê, em voz alta o que está escrito sem raciocinar.
A amiga Marta Silveira narrou recentemente um episódio em que foi realizar um exame preventivo periódico e a pessoa que conduzia a entrevista da triagem não prestava atenção às respostas que ela dava e que já eliminavam as perguntas seguintes. Mas a mulher lia o questionário e só esperava as respostas para marcar com xis o papel.
Há alguns dias recebi, por whattsapp, um aviso do posto de saúde do bairro para eu buscar o encaminhamento, pois minha cirurgia já estava agendada e eu tinha dois dias úteis para pegar a autorização. Eu li o aviso de novo. Era aquilo mesmo. O meu nome estava no alto da mensagem grafado em negrito e em caixa alta. Ou seja, era uma coisa importante.
Mas só tem um detalhe: Eu não solicitei nenhuma cirurgia pelo SUS, muito menos de “vasectomia”!
Fui ao posto para esclarecer o assunto e não ser incluído na lista de faltosos. Chegando lá expliquei a situação para a recepcionista, que eu acho não ter prestado atenção à parte em que eu disse “eu não pedi cirurgia nenhuma”. Ela leu a autorização e disse: “Está tudo certo. O senhor teve sorte, a cirurgia já está marcada!” E foi me entregar o papel. Eu repeti que era um engano. A mulher releu o papel, conferiu o nome com o meu documento, com a carteira do SUS, com a carteira do posto e insistiu: “Seu José, o senhor tem que comparecer meia hora antes do horário marcado. Vou colocar o marca texto para o senhor não se confundir”.
– Posso falar com a gerente do Posto?
– Ela não está, foi à Secretaria. Vai ali na Regulação, na terceira porta à direita.
Fui e esperei a funcionária terminar a conversa sobre filhos com outra mulher para me atender. Contei a história toda de novo. Ela acessou o computador e depois começou a rir.
– Desculpa, seu José. A mensagem foi para a pessoa errada. A gente copia e cola e aí…
Saí de lá aliviado. Foi por pouco que um Ctrl C + Ctrl V me deixariam castrado.
O que hoje não faz a mínima diferença.