29 de janeiro de 2023

Osmarina e Paulo: Há 25 anos vivendo arte

Por José Carlos Sá

Osmarina e Paulo em pose especial para o Banzeiros (Foto JCarlos)

“Paulo e Osmarina são artistas completos. Enquanto ela modela o barro caprichosamente e com paixão, ele faz o mesmo que ela, completando a obra, lhe dando o restante da vida através das cores pensadamente, com seus matizes de bom gosto e certeza! O resultado é aquilo que nossa comunidade conhece, o dia a dia da alma de nosso povo e tudo vem num leque de infinitos assuntos, temas e momentos que poeticamente trazem o saber, a religiosidade e o trabalho. Tudo em harmonia, mostrando detalhes trazidos pelos descendentes dos povos que formam a população de Florianópolis. São ceramistas das figuras, também descendentes da ilha de São Miguel – Açores, como milhares daqui, com este diferencial, de registrar no barro, água, fogo, tinta e talento o espírito vivo da herança açoriana”.
A abertura desta postagem foi especialmente escrita pelo artista plástico Jone Cezar de Araujo, amigo comum do casal Osmarina Villalva Paulo Villalva e meu para esta publicação. O texto resume a dimensão do trabalho que é feito diretamente do coração às mãos dos artesãos, há 25 anos.
Ela nascida na Ilha de Santa Catarina, descendente de açorianos e viveu as coisas que reproduz no barro. Paulo é gaúcho de Uruguaiana, há 52 anos residindo em Florianópolis e acha que também tem algum sangue luso circulando nas veias, vindo do lado materno, já que a família do pai tem procedência espanhola. A habilidade dele são os pincéis e tintas. A união dos talentos de Osmarina e Paulo gerou uma obra que é reconhecida internacionalmente.

Paulo Villalva mostra o painel que fez inspirado e em homenagem ao professor Franklin Cascaes em 3D (Foto Matheus Vargas/PMF)

Na mostra ‘Tradições: saberes e fazeres’, em exposição no Centro de Cultura do Continente – Franklin Cascaes, no bairro de Coqueiros, em Florianópolis, eu tive tempo para observar as obras e conversar com os artistas, ouvindo as explicações daquilo que está na inspiração das peças. Uma das coisas que o Paulo chamou minha atenção foi para o acabamento personalizado de cada uma das figuras. São centenas de peças tratadas individualmente e sem padronização ou processo industrial.

Ao me explicar a peça Travessia de Nossa Senhora, Osmarina contou da forma que o pai dela narrava a lenda, dando o crédito a cada uma das personagens que aparecem na escultura: Nossa Senhora, o siri, o linguado e as tainhas (Condensei a lenda na legenda da foto).

A lenda da travessia de Nossa Senhora – Ou Nossa Senhora e o siri – Contam que Nossa Senhora estava no continente, ali no Estreito,  querendo atravessar para a Ilha de Santa Catarina. Ela viu um linguado e perguntou ao peixe: “Linguado, a maré vai encher ou vai vazar?” O linguado fez pouco caso e ainda arremedou a Santa e foi embora. Um siri que nadava por perto falou para Nossa Senhora subir nas suas costas que ele a levaria para o outro lado do canal. Mas o siri não consegue flutuar o tempo todo, por isso apareceu uma manta de tainhas que ampararam o crustáceo até chegar à ilha.  Recompensa e Castigo: Depois de desembarcar das costas do siri, Nossa Senhora castigou o linguado por ele ter sido mau educado. O peixe passou a rastejar, ter a boca torta e os dois olhos no mesmo lado da cara. Já o siri ficou, como recompensa, a imagem da santa gravada em alto relevo nos seu casco e as tainhas ganharam em suas escamas a imagem de uma mulher usando um longo véu com um resplendor multicolorido (Foto JCarlos)

Ao meu lado, também ouvindo a narrativa, a professora Nerivalda Duarte – que também é benzedeira – contou que a mãe dela usava o “leme” do siri para fazer um “brébi” [breve, patuá]. O leme é a patinha trazeira do crustráceo, usada para dar a direção quando ele está nadando. “O leme era torrado, moído e costurado em um saquinho com um ramo de erva e colocado na roupa da criança”, explica Nerivalda. Serve para melhorar de doenças respiratórias. Claro, o brébi é usado acompanhado de rezas e benzeções.

Nas fotos, focalizo os detalhes da arte escultórica de Osmarina e os traços e cores precisas de Paulo Villalva:

Pombeiros – Vendedores de rosca e de alho e passarinheiro (Fotos JCarlos)

Figuras que fazem parte do conjunto “folguedo do boi de mamão em frente ao prédio da Alfândega” (Foto JCarlos)

A Coroa, o Cetro e a Pomba do Divino (Fotos JCarlos)

Folguedo do Boi de mamão – detalhe (Foto JCarlos)

Pescadores de tainha, outra obra repleta de detalhes, que valorizam os artistas (Foto JCarlos)

Cortejo do Divino – Vejam os cabelos da condutora da bandeira, o rendilhado das roupas e a segunda bandeira (Fotos JCarlos)

Folguedo do Boi de mamão – “A Maricota (centro), mulher altíssima, vaidosa e desengonçada, teria surgido como uma gozação às alemãs que colonizaram nosso estado.” Em ‘Conhecendo o Bairro José Mendes’ – UFSC/2002. O bairro José Mendes é onde os artistas resideme e tem o atelier (Foto JCarlos)

Conjunto completo do Boi de mamão (Foto JCarlos)