
Paulo Villalva mostra o painel que fez inspirado e em homenagem ao professor Franklin Cascaes em 3D (Foto Matheus Vargas/PMF)
Na mostra ‘Tradições: saberes e fazeres’, em exposição no Centro de Cultura do Continente – Franklin Cascaes, no bairro de Coqueiros, em Florianópolis, eu tive tempo para observar as obras e conversar com os artistas, ouvindo as explicações daquilo que está na inspiração das peças. Uma das coisas que o Paulo chamou minha atenção foi para o acabamento personalizado de cada uma das figuras. São centenas de peças tratadas individualmente e sem padronização ou processo industrial.
Ao me explicar a peça Travessia de Nossa Senhora, Osmarina contou da forma que o pai dela narrava a lenda, dando o crédito a cada uma das personagens que aparecem na escultura: Nossa Senhora, o siri, o linguado e as tainhas (Condensei a lenda na legenda da foto).

A lenda da travessia de Nossa Senhora – Ou Nossa Senhora e o siri – Contam que Nossa Senhora estava no continente, ali no Estreito, querendo atravessar para a Ilha de Santa Catarina. Ela viu um linguado e perguntou ao peixe: “Linguado, a maré vai encher ou vai vazar?” O linguado fez pouco caso e ainda arremedou a Santa e foi embora. Um siri que nadava por perto falou para Nossa Senhora subir nas suas costas que ele a levaria para o outro lado do canal. Mas o siri não consegue flutuar o tempo todo, por isso apareceu uma manta de tainhas que ampararam o crustáceo até chegar à ilha. Recompensa e Castigo: Depois de desembarcar das costas do siri, Nossa Senhora castigou o linguado por ele ter sido mau educado. O peixe passou a rastejar, ter a boca torta e os dois olhos no mesmo lado da cara. Já o siri ficou, como recompensa, a imagem da santa gravada em alto relevo nos seu casco e as tainhas ganharam em suas escamas a imagem de uma mulher usando um longo véu com um resplendor multicolorido (Foto JCarlos)
Ao meu lado, também ouvindo a narrativa, a professora Nerivalda Duarte – que também é benzedeira – contou que a mãe dela usava o “leme” do siri para fazer um “brébi” [breve, patuá]. O leme é a patinha trazeira do crustráceo, usada para dar a direção quando ele está nadando. “O leme era torrado, moído e costurado em um saquinho com um ramo de erva e colocado na roupa da criança”, explica Nerivalda. Serve para melhorar de doenças respiratórias. Claro, o brébi é usado acompanhado de rezas e benzeções.
Nas fotos, focalizo os detalhes da arte escultórica de Osmarina e os traços e cores precisas de Paulo Villalva:

Figuras que fazem parte do conjunto “folguedo do boi de mamão em frente ao prédio da Alfândega” (Foto JCarlos)

Cortejo do Divino – Vejam os cabelos da condutora da bandeira, o rendilhado das roupas e a segunda bandeira (Fotos JCarlos)