Estamos em plena temporada de verão em Santa Catarina, com os problemas habituais nas cidades litorâneas do Estado. Em Florianópolis, além do trânsito permanentemente engarrafado, o destaque da estação é o surto de diarreia que afeta turistas e locais, especialmente aqueles que frequentam as praias do norte da Ilha de Santa Catarina.
Em dezembro tivemos chuvas pesadas e o rio do Brás – esgoto a céu aberto na região de Canasvieiras – rompeu a barreira construída pela Prefeitura para evitar que o curso seguisse seu destino natural para o mar, com isso, o material orgânico composto por dejetos humanos foi despejado in natura no oceano. O rio do Brás está pagando a culpa da falta de saneamento, de manutenção onde tem, da irresponsabilidade de quem faz ligação clandestina dos imóveis na rede pluvial e omissão de quem devia fiscalizar.
Em uma série de matérias especiais o jornal ND mostrou a situação da falta de saneamento básico em todo o Estado. Sei que esse é um investimento de longo prazo, mas precisa começar. Você começou? Nem as autoridades que estão nos cargos, em nosso nome, para fazer isso.
O título desta postagem foi uma lembrança que tive ao ler/ouvir a entrevista da professora Gislaine Fogaro, do Laboratório de Viralogia Aplicada da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), responsável pela equipe que identificou o HuNoV-G1, ou Norovírus Humano Genótipo 1, como o agente da contaminação.
Em entrevista à rádio CBN Floripa a pesquisadora disse: “Esses vírus estão muito atrelados a alimentos e consumo, ingestão de água também. (…) A água do mar pode ser uma fonte de transmissão? A resposta é sim. Porque o vírus em baixa concentração, mesmo com poucas partículas virais presentes, pode iniciar um surto. Ou seja, quem entrar em contato com água do mar, um mergulho, tem uma ingestão de água e pode ter início a uma infecção. Mundialmente os surtos relacionados a Norovírus são mais relacionados a alimentos e água de consumo direto”.
No início da década de 1990, trabalhando como repórter no jornal Alto Madeira, fiz a cobertura do surto de cólera que aconteceu em Porto Velho. Em uma das primeiras matérias sobre o assunto, fiz um texto explicando como as pessoas poderiam se contaminar com o Vibrio cholerae e os cuidados que deveriam adotar para evitar a doença. Depois de ler minha matéria, meu editor, o saudoso Paulinho Correia, resumiu a situação: “Então, Zé, pra ‘pegar’ o cólera tem que comer e beber merd@!” É isso.