Assistia a um filme no final da tarde de domingo quando começaram a pipocar as notificações do whatsapp trazendo notícias de Brasília. Baderneiros invadiam as sedes dos três poderes e quebravam o que encontravam pela frente, sem qualquer obstáculo. Pausei o filme e fui ver o que era.
Fiquei ao mesmo tempo triste e estarrecido. Não era manifestação, era vandalismo. Vejam que não escrevi a palavra “surpreso” para descrever minhas primeiras impressões sobre o quebra-quebra. Eu já esperava que aquilo ocorreria mais cedo ou mais tarde. E não foi preciso ter bola de cristal, saber ler cartas ou ter contato, via whattsapp ou telegram, com quem organizou a baderna.
A permissão tácita para que os acampamentos em frente aos quartéis fossem mantidos foi um encorajamento para que o sentimento de impunidade se solidificasse. A conivência de militares, policiais, Ministério Público, Congresso Nacional, Judiciário e uma parte da Imprensa foi um grande incentivo ao movimento golpista e deu mais certeza que uma manifestação maior, já sendo planejada há muito tempo, teria sucesso.
Hoje acompanho o balanço de perdas e danos físicos e institucionais. E mais um sentimento se soma à tristeza que carrego desde ontem: a vergonha. Ver prédios históricos, obras de arte, móveis, equipamentos quebrados e inutilizados e, acima de tudo, a Democracia brasileira, que foi profundamente lacerada por uma minoria violenta, ignorante – na pior acepção da palavra – que não aceita o resultado das urnas, desfavorável ao candidato deles.
Estou esperando agora a reação das autoridades constituidas na mesma proporção da arruaça que atraiu para o Brasil, mais uma vez, a atenção de todo o mundo.
Reproduzo abaixo as fotos que mais me impressionaram na cobertura dos fatos de ontem em Brasília.

Lama 1 – Cavalos sem os policiais que os montavam, os PMs foram derrubados e espancados pelos terroristas (Foto Marcelo Camargo – Agência Brasil /Reprodução)

Lama 3 – Nem o retrato do Marechal Rondon escapou da sanha da plebe ignora (Foto Gabrielá Biló – FolhaPress / Reprodução)

Lama 5 – Uma cópia da Constituição de 1988 foi roubada e mostrada para os baderneiros (Reprodução Twitter)

Lama 6 – Manifestante posa sentado em uma cadeira do STF com o brasão da República (Foto Weslley Galzo/ Reprodução Twitter)
* “É a lama, é a lama”, é um verso da música Águas de Março, do Tom Jobim.