02 de janeiro de 2023

Crônicas dos nove reinos – A resenha de hoje

Por José Carlos Sá

O livro leva para um passeio ao mundo mitológico nórdico e desvenda as origens de algumas comemorações cristãs. Se não desvenda oferece argumentos para discussão

A leitura das Crônicas dos nove reinos levou-me a descobertas da mitologia nórdica – que remonta a 4.100 A. C. – e que eu conhecia apenas a partir dos desenhos animados que eram exibidos na TV brasileira por volta de 1967. Eram animações rudimentares, criadas pela empresa Grantray-Lawrence Animation nos apresentando o Capitão América, Hulk, Namor. Homem de Ferro e Thor. Junto com o Thor e o martelo mágico (muito prazer, senhor Mjolnir), eu sabia da existência de Odin, Loki e a casa deles em Asgard, cujo acesso era pela ponte do Arco-Íris, e mais nada.

Os nove Reinos sustentados pela árvore Yggdrasil: Asgard, Vanaheim, Alfheim, Midgard, Nivadellir, Helheim, Nifelheim, Muspelheim e Jotunheim, em gravura de Friedrich Wilhelm Heine – 1886 (Reprodução)

A autora, L. M. (Lili Marli) Bechert, nasceu em uma colônia alemã no interior do Rio Grande do Sul, onde passou a infância ouvindo histórias mitológicas que tinham como personagens gigantes, anões, animais encantados e toda a trama envolvendo traições, amores e paixões entre deuses e mortais. Mais tarde L. M. Bechert leu e pesquisou muito sobre o assunto, reunindo neste livro uma série de contos em que nos apresenta toda essa saga, inclusive as origens das festas do natal e da páscoa, que o cristianismo “despagonizou”.

Destaco algumas passagens do livro, como por exemplo, o surgimento o hidromel, que eu já conhecia de minhas leituras sobre a mitologia grega e era uma bebida preferida por dez entre dez deuses do Olimpo, junto com néctar e ambrósia.

L. M. conta que a bebida surgiu quando “(…) Ao fim da guerra entre os deuses vanir [regentes das natureza] e aesir [relacionados à guerra, originários da Turquia], na cerimônia do armistício, todos os deuses cuspiram em uma vasilha usada para selar acordos. Da fermentação da saliva dos deuses, nasceu um ser muito especial, chamado Kvasir. Renomado pela intensa sabedoria, percorria os reinos dando conselhos a quem pedisse e respondendo a quem perguntasse (…)” Dois anões mataram Kvasir para obter o conhecimento profundo, mas continuaram “tão estúpidos quanto antes”. Aí tentaram várias mágicas para enriquecer a saliva dos deuses, adicionando ervas aromáticas, mel e o sangue deles. “Depois de fermentado por longo tempo, este líquido ficou conhecido como hidromel ou Odhroerir, o elixir da inspiração, que conferia o dom da poesia, arte e da criatividade a quem o bebesse”.

Sleipnir, filho de Loki, o cavalo mais rápido do mundo (Usekahla Blog / Reprodução)

Já Loki, que eu pensava ser irmão ou meio-irmão de Thor, surge no livro como um gigante amigo de Odin. É apresentado como charmoso, sedutor, inteligente, mas malandro, mentiroso, invejoso, traidor e trapaceiro. Para ajudar Odin ele se transforma em uma égua e “seduz” o cavalo de um gigante, que ao procurar a montaria se distrai e não cumpre a promessa feita. “Passado algum tempo, Loki reapareceu com uma cria que gerou quando esteve em forma de égua. Um cavalo de oito patas que presenteou a Odin”. Loki era ‘mãe’ de Slipnir, o cavalo mais veloz do mundo.

Uma outra passagem, que achei bastante familiar, se refere ao nascimento de Balder, “o deus menino prometido, nasceu no solstício de inverno, em meio a muita festa, alegria e esperança. Filho de Odin, o deus criador dos Nove Reinos  e também conhecido como o pai de todos, e de sua consorte Frigga, a deusa mais poderosa”. Balder nasceu dia 24 de dezembro e para comemorar o acontecido a deusa Idun, da juventude, saiu em busca da única árvore que permanecia verde em meio ao gelo e à neve: o pinheiro. “Então enfeitou com maçãs vermelhas (…). Em seguida, apanhou estrelas do céu e iluminou o pinheiro, para significar a luz que o menino traria consigo.” Qualquer semelhança com o natal cristão não é mera coincidência.

Li a primeira edição do livro Crônicas dos Nove Reinos, de L. M. Bechert, editora Grupo Novo Século, São Paulo, 2020. Ele está disponível paar venda em livrarias virtuais como a Amazon e Americanas.

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