O livro Gustavo de Lacerda: Vida e obra de um jornalista negro catarinense (1854 – 1909) inaugura um novo caminho aberto pela Editora Cruz e Sousa dedicado à divulgação de trabalhos inéditos ou de edições fora de catálogo de autores negros, ou não, “cujas pesquisas versem sobre história, modos de vida, saberes tradicionais, práticas religiosas, comunidades quilombolas, clubes negros, personalidades negras e demais temas relacionados à experiência afro-brasileira”.
A ideia e o formato do livro – 12cm x 17cm – foram inspirados na Coleção Primeiros Passos, lançada pela Editora Brasiliense no início da década de 1980, que tinha como característica apresentar um texto de um autor sobre determinado assunto, em linguagem acessível. O número de páginas também facilitava para que a obra fosse lida em duas ou três “sentadas”.
Dito isso, fui à leitura sobre como foi a vida do jornalista Gustavo de Lacerda antes de ter participado da criação da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), fundada em 1908 para, em princípio, assegurar aos jornalistas direitos assistenciais. Considerando “jornalistas” todos os que trabalhavam em veículos de comunicação. A pesquisa do autor, professor Fábio Garcia, foi suscitada pela indagação do professor Lino Peres, que queria saber como nasceu, como vivia, quem eram os pais e como era a cidade de Nossa Senhora do Desterro que Gustavo de Lacerda conheceu.
A pesquisa consumiu alguns meses, viagens e um trabalho de detetive lotado no CSI (Crime Scene Investigation) para que fosse determinada a data de nascimento do biografado, já que havia uma rasura na Certidão de Batismo, justamente onde estava escrito o dia do nascimento.

Gustavo de Lacerda também foi “embranquecido” na iconografia oficial. À esquerda, retrato “oficial” usado pela ABI; direita, arte de Bruno Barbi para a capa do livro (Reproduções)
O professor Fábio levantou quem foram os pais do jornalista, nascido Gustavo Adolpho de Fraga – a mãe, Maria das Dores, escravizada pelo tenente Antônio da Costa Fraga e o pai, major Luiz de Souza Fagundes; os irmãos e tio. Através de documentos emitidos pelo Exército Brasileiro, acompanhamos a carreira militar de Gustavo, suas promoções e punições, até quando deu baixa em 1881.
No período em que esteve na caserna, tomou conhecimento da Escola Positivista criada pelo francês Auguste Comte e divulgada no Brasil, especialmente no seio do Exército, pelo coronel Benjamin Constant. Passou a defender a adoção da República como forma de governo. Também teve acesso às ideias socialistas que chegavam da Europa e adotou algumas, como o associativismo e o cooperativismo, inspiração que o levou à fundação da ABI, pois achava que os jornais “deveriam ter uma missão social e funcionar como cooperativas de cujos interesses participassem todos os seus membros, dos diretores aos mais modestos colaboradores”.
Apesar da história de superação, o personagem não me empolgou. Acontece.
Serviço:
Gustavo de Lacerda: Vida e obra de um jornalista negro catarinense (1854 – 1909)
Editora Cruz e Sousa, Florianópolis, 2022
Preço: R$ 35,00
Aquisição: editoracruzesousa.com.br