– Liquinho, eu te dou 50 pratas para você ir lá embaixo e segurar aquela enceradeira!
O desafio quem fez foi meu colega Romeu (Era um sábado, no começo da tarde, e nós trabalhávamos no mezanino de uma agência dos Correios no centro de Belo Horizonte. O pessoal da limpeza fazia o faxinão de final de semana usando enceradeiras industriais para lavar o local e depois de tudo limpo, enceravam usando o mesmo equipamento, só trocando as escovas).
Eu aceitei a provocação e desci as escadas. A senhora que lidava com o equipamento – acho que já estava combinado com o Romeu – cedeu a enceradeira com um sorriso nos lábios. Eu imaginei que era só fazer como eu estava acostumado em casa: segurar o aparelho e dirigi-lo para a direção que eu quizesse. Ledo engano.
A máquina, que precisava apertar uma alavanca para funcionar, se apoderou do meu corpo e, talvez, da minha alma e arrastou-me em um movimento circular, em que eu não saia do lugar e ela girava em torno e o fio se enrolando nas minhas pernas. No meu desespero, eu segurava com força o cabo, apertando também a alavanca.
A mulher não parava de rir, nem meus colegas, que ficaram no balcão olhando o meu baile involuntário.
Alguém desligou a enceradeira na tomada, enquanto eu, tonto e sem graça, devolvia o equipamento a quem sabia manuseá-lo.
Aprendi a lição e escapei de muitas outros desafios desse tipo ao longo da minha vida, como por exemplo: “Quinhetão para você colocar essa pimenta na boca e mastigar!”
[Liquinho era uma botija de gás de dois quilos lançada pela empresa Liquigás no início da década de 1970, com uma campanha publicitária maciça. O Romeu colocou o apelido porque me achava parecido com o Liquinho: “baixinho, gordinho e até bonitinho”….]