08 de novembro de 2022

Dois monges no sul do Brasil – A resenha de hoje

Por José Carlos Sá

Capa da edição resenhada (Divulgação)

Continuando no assunto Guerra do Contestado.

Depois de ler O bruxo do Contestado, incontinenti (até porque os livros estavam guardados juntos), peguei o livro “Dois monges no sul do Brasil – Resumo histórico de dois monges que percorreram o sul do Brasil, de meados do século XIX ao início do século XX”  do professor Antonio Dias Mafra (Edição do autor, São Bento do Sul – SC, 2019). Ele apresenta um estudo com um apanhado sobre três – entre uns tantos – “homens santos” que contribuiram para alimentar o imaginário popular ao atribuir a eles a intervenção junto a Deus para que milagres acontecessem.

O nome João Maria é dado a dois monges, o italiano Giovanni Maria de Agostini, que chegou ao Brasil, vindo do Peru em 1844, e ao brasileiro Atanás Marcaf, que adotou o codinome de João Maria de Jesus e era confundido pela população com o primeiro eremita. O terceiro monge, que é incluído no livro sem menção na capa, foi José Maria de Santo Agostinho, cujo nome real era Miguel Lucena de Boaventura, um soldado desertor acusado de estupro.

Na imaginação da população pobre do interior do país, estes eremitas andarilhos representavam um alternativa como condutores espirituais, já que não havia representantes de qualquer denominação religiosa nas grotas do sertão. O monge era um homem que se apresentava com roupas simples em oposição aos trajes luxuosos dos representantes da Igreja Católica; que usava palavras simples, em contraste com a fala empoada dos padres, que celbravam as missas em latim ou que usavam um vocabulário hermético para a gente simples do interior. Os monges eremitas também ensinavam o uso de plantas para curar doenças, levavam conforto a enfermoss, faziam sessões de orações e instalavam cruzes para marcar os locais de devoção.

No sentido horário, os monges João Maria de Agostini, João Maria de Jesus e José Maria de Santo Agostinho, acompanhado das Virgens (Reprodução/Montagem JCarlos)

O monge João Maria D’Agostini, depois de ter sido preso algumas vezes, deixou o Brasil em 1852 e percorreu vários países da América, foi residir no estado norte-americano do Novo México, onde foi assassinado em 1869. Ele foi sucedido pelo monge João Maria de Jesus (Atanás Marcaf), que apareceu no Paraná e Santa Catarina em 1886. Também tinha barbas longas, dormia em locas, grutas ou cavernas e se alimentava muito frugalmente. Para o povo simples, era o mesmo profeta de quem os antigos falavam. O autor destaca que as fotos do monge, que eram vendidas aos crentes, tinha a informação: “Profeta João Maria de Jesus – 188 anos”.

O terceiro monge a aparecer na história e que é apontado como uma personagem importante na Guerra do Contestado foi o ex-soldado Miguel de Lucena Boaventura, que espertamente adotou o nome de José Maria de Santo Agostinho e, como os antecessores, era considerado milagreiro, pois conseguiu fazer com que dois doentes – diz-que em estado terminal – melhorassem a saúde. Ao contrário dos “João Maria”, José não queira isolamento e fundou agrupamentos; tinha sua guarda pessoal, os “Doze Pares de França”; e queria a volta da monarquia. Liderou o levante que gerou a Guerra do Contestado, mas morreu em um dos primeiros combates. O corpo não foi sepultado, já que os seguidores acreditavam que ele ressussitaria.

Para começo da pesquisa sobre a Guerra do Contestado, acho que estou indo bem.