De volta das minhas atividades laborais-medico-culturais, ontem (26), embarquei em um transporte por aplicativo em que o motorista estava particularmente loquaz. A distância de 24 km foi pequena para o tanto de assunto que ele tinha para comentar.
Começou dizendo que estava torcendo por uma vitória do Palmeiras, pois concorria a um prêmio de um milhão e meio e que mesmo que fosse dividido entre três acertadores, a bolada daria para ele viver só de aplicações de capital. Acrescentou que não deixaria de trabalhar com aplicativo, mas o faria sem sentir pressão em ter que cumprir metas diárias para comprar gasolina e alimentos.
Depois o assunto mudou radicalmente. Perguntou se eu estudava ou era professor da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), onde tomei o transporte. Respondi que não, que fora lá participar do lançamento de um livro. Desse momento em diante o motorista fez uma palestra sobre cultura (acho que essa era a intenção), cujo teor consegui reter muito pouco. Foi mais ou menos assim:
– Muito maneiro… O senhor estava em um evento assim elevado, de uma práxis, de uma sapiência superior. Acho que o papo devia ser muito intelectual, num tem? Ao invés de ouvir funk e fumar maconha, os jovens da minha idade deviam frequentar esse tipo de ambiente. O senhor está de parabéns por elevar seu intelecto indo onde estão outras pessoas que comungam do mesmo interesse…
E assim foi até me deixar no portão de casa, onde parabenizou, uma vez mais, minha opção pelas boas companhias. Agradeci por me incluir entre os intelectuais, sem eu sê-lo.