23 de setembro de 2022

O detetive de Florianópolis – A resenha de hoje

Por José Carlos Sá

Capa da segunda edição do D. T. Tive (Reprodução)

Durante a pandemia, enquanto estávamos cumprindo o “afastamento social”, vária editoras disponibilizaram parte dos acervos de livros eletrônicos gratuitamente. Aproveitei e baixei alguns do meu interesse ou que eu entendi que eram interessantes, como foi o caso dessa  obra que vou comentar.

Li o livro aos poucos, nas salas de recepção de médicos, no ônibus e como sonífero. A primeira metade da obra é sobre um detetive particular, auto-denominado “o primeiro (e único) detetive de Florianópolis”. Talvez de original só tenha isso, pois a personagem é inspirada, para não dizer copidada, do perfil de outro colega dele de profissão, o amora e aético Sam Spade, que figurou nas páginas de diversos romances policiais norte-americanos e foi criado pelo genial Dashiell Hammett, um dos mais profícuos escritores e roteiristas de Hollywood entre os anos 1929 e 1940.

O ator León de Paula interpreta Domingos Tertuliano Tive, o D. T. Tive em filme de 2013 (Divulgação / ND)

Impliquei, para começar com o nome da personagem: Domingos Tertuliano Tive, que adotou o nome de guerra de D. T. Tive. Muito criativo. As histórias são imaginárias e baseadas em fatos da capital catarinense nas décadas  de 1970 a 1980 e o detetive, igual ao inspirador dele, não tinha ética. Um caso em que trabalhou para investigar infidelidade conjugal, recebeu parte do dinheiro adiantado do contratante, descobriu que a mulher o traia e a chantageou, recebendo mais grana.

Em outra história, O crime da rua João Pinto, o detetive foi contratado para descobrir quem colocou – literalmente – *erda no ventilador. Um faxineiro cortou a energia empresa, instalou uma arma biológica na sala de reuniões, presa à grade do ventilador, e quando a reunião começou religou a luz, fazendo com que o produto se espalhasse sobre todos os participantes do encontro (Me lembrei de um atentado ocorrido em Cerejeiras – RO, por volta de 1987, quando alguém lambuzou as maçanetas dos carros dos vereadores com cocô).

Na segunda parte o autor Jair Francisico Hammes, escreve sobre conversas em aviões (no tempo em que era permitido fumar durante as viagens), observações sobre o ocomportamento de frequentadores de bares, visões ou sonhos que ele teve com o Papai Noel, o Conde Drácula e com São Pedro.

Destaco o texto “O excretar lá de cima”, em que o escritor usa todo o espaço disponível para a crônica para reclamar do vizinho que mora no apartamento acima do dele, que o incomoda com o despertador, com os barulhos do sanitário, com os ruídos da louça e talheres pela manhã; durante o dia o vizinho trabalhava fora, mas o autor também. À noite – a partir da meia-noite – o vizinho voltava e os roncos é que incomodavam.

Um dia, o amanhecer nao teve os ruídos habituais. Curioso, o incomodado foi saber sobre o vizinho. Ele se mudara, pois não aguentava os barulhos gerados no apartamento que existia abaixo do dele. Uma senhora lição para quem se uincomoda com os outros e não cuida de si.

O e-book que li de “O detetive de Florianópolis” é a segunda edição revista, da EdUFSC, 2012, Florianópolis. O autor Jair Francisco Hammes  (1935/2012) foi jornalista, advogado, professor, publicitário e escritor. As crônicas foram publicadas inicialmente no jornal O Estado, que circulou de 1915 a 2009, e depois foram reunidas em um livro cuja primeira edição chegou às livrarias em 1983.

Recomendo para quem quer conhecer um pouco da Florianópolis na passagem da década de 1970 para 1980. Nada de mais. Um bom passatempo.

 

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Crônicas Dashiell Hammett Editora UFSC Florianópolis Jair Francisco Hamms O Estado 

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