12 de agosto de 2022

Croniquetas matinais – diálogos aleatórios e outros fatos

Por José Carlos Sá

Impressões captadas nos deslocamentos diários para o trabalho no ônibus ou nos carros de transporte de passageiros por aplicativos

Vice-motorista

Uma senhora é passageira contumaz do horário em que embarco, de manhã cedo. Quando entro no ônibus ela já está no lugar habitual dela, que é a primeira cadeira junto à porta dianteira. É quase uma assessora do motorista. Ajuda a ele fornecendo moedas para o troco das passagens. Em uma manhã, quase não havia nenhum dos colegas de viagem esperando nas paradas. A vice-motorista comentou: – Hoje não “pegamos” quase ninguém. Ou, seja ela já se considera membro da tripulação do busão.

Vice-motorista

Esta foi em um retorno para casa, por volta das 17 horas. O passageiro da cadeirinha próxima ao motorista falava ao telefone, que estava em em viva voz. Combinava com alguém ir à prais. Acredito que ele era surdo e falava em voz alta. Eu, que também sou surdo, já estava incomodado. Depois de resolvida a questão, o dito senhor começou a conversar com o condutor. Primeiro reclamou do barulho que as pastilhas do freio faziam quando eram acionadas. “As pastilhas do freio foram trocadas esta semana, o barulho é normal”. Depois quis saber que marcha era usada para subir a ladeira em que estávamos. “Se eu venho embalado, subo de segunda, mas se eu paro lá embaixo, tenho que colocar a primeira, pro motor aguentar subir.” A última questão levantada pelo co-piloto foi o destina dado ao cobradores, pois são os próprios motoristas que recebem o dinheiro dos passageiros. “Eles ficam na garagem treinando para ir para a Categoria ‘D’, quando trocarem a CNH vão entrar na escala. Ninguém foi dispensado, o sindicato não deixou”.

Os cartões tem a mesma cor, mas servem para coisas distintas… (Foto JCarlos)

Cartão errado

Eu critico quem chega ao caixa de qualquer estabelecimento e só então vai procurar o dinheiro na carteira ou bolsa, atrasando quem está na fila. Por isso, antes de sair de casa separo o cartão usado no ônibus. Ontem fiz isso normalmente e fui para o ponto de onibus. Ao embarcar aproximei o passe eletrônico do leitor e nada da catraca destravar. Pensei “essa *osta quebrou de novo. Olhei para o cartão e era a carteirinha da Unimed, que tem a mesma cor que o meu ‘leva eu’! Discretamente peguei a carteira e troquei o miserável.

Diesel

Este causo é do mês de maio e estava perdido entre as minha anotações. Ao passar por um posto de combustíveis, uma mulher sentada à minha frente monologou com a amiga que estava viajando de pé ao lado dela: – Olha isso! Gasolina a R$ 7,24 e o preço da passagem é R$ 4,85! Só [indo trabalhar] de moto! Mas moto é perigoso… //Pausa de reflexão // O Zé Trovão [Cidadão autoproclamado líder dos caminhoneiros] deu uma semana [para o preço do diesel baixar] É o resultado do que os “outros” fizeram antes…   Desci do ônibus na parada seguinte, mas acredito que o monólogo continuou até Florianópolis… (Atualização dos preços. O diesel hoje (12/09) está a R$ 6,99 e a passagem de ônibus, na linha que eu utilizo, R$ 5,85)

Hein?

Um passageiro embarcou, destravou a roleta e foi se sentar, rapidamente no fundo do ônibus – na cozinha, como dizíamos antigamente. Atrás dele subiu uma mulher que tentou passar na roleta, mas a “borboleta” estava travada. Com cara feia falou para o homem que a havia antecipado no  veículo: – Ieu?

Ele voltou e liberou a catraca. Traduzindo, o que ela disse em minerês: “E eu?

Apaga a luz

Tenho dó de uma menina que é levada “à força” para a creche (acredito) todas as manhãs. A pequenina não está acordada direito e a mãe à arrasta degraus acima ou abaixo. Dia desses a minina começou a chorar quando entro no ônibus e pedia aos berros: “Quero ficar no escuro! Apaga a luz, apaga a luz!!!”

Fela

Na rádio do carro do aplicativo 99, uma promoção da Rádio Magia. R$ 150 em vale-compras em supermercado da cidade que é famoso por ter os preços dos produtos mais caros que os concorrentes. Eu ri e comentei isso. Pra que? O motorista estava com uma demanda reprimida de desabafos:

– Tudo no Brasil depende do diesel, tudo. De quê adianta o presidente ter zerado os impostos federais se esse ‘fêdêpê’ do governador não abre mão do ICMS?”

Eu não respondi e o assunto morreu. Usei uma sigla para substituir o adjetivo qualificativo usado pelo motorista, pois não quero ser processado por xingamento dos outros.

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Florianópolis gasolina Motoristas de onibus Óleo diesel Ônibus coletivo urbano Preço de passagem Unimed 

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