19 de julho de 2022

Trauma pós-lotérico

Por José Carlos Sá

Cartela da loteria esportiva na década de 1970 (Diivulgação CEF)

Há alguns dias os veículos de imprensa de Santa Catarina destacaram uma casa lotérica de Blumenau (a 130 quilômetro de Florianópolis) que já pagou mais de R$ 150 milhões em prêmios dos mais de R$ 200 milhões que saíram para moradores da cidade. Foram 38 apostas vencedoras só este ano, sendo que a maior delas recebeu exatos R$ 51.830.706,79.

Nunca fui de apostar em nada. Meu pai era radicalmente contra os jogos – seja o jogo do bicho, que ainda é uma contavenção penal (Lei de Contravenções Penais, de 03101941), sejam as loterias Mineira ou Federal. Não me recordo se ele chegou a apostar na Loterial Esportiva, já que ele acompanhava futebol em geral e o Vasco da Gama em particular.

Participei de alguns “bolões” promovidos por colegas de trabalho, especialmente nas disputas da Copa do Mundo, quando o Brasil ia jogar, mas nunca logrei êxito.

A zebrinha – criação do Borjalo – anunciava os resultados da loteca (Reprodução)

Mas o trauma a que me refiro no título, é antigo. Quando a Loteria Esportiva foi lançada pela Caixa Exonômica Federal em abril de 1970, logo virou paixão nacional, pois derivava de outro arrebatamento brasileiro, que é o futebol. Na loteca você tinha que fazer treze prognósticos, acertando tudo, levava uma bolada em dinheiro. Muita gente fazia doze, onze, dez pontos e dividiam prêmios menores. A Tv Globo inventou uma personagem – criada pelo cartunista Borjalo – a Zebrinha (1972/1986) para anunciar os resultados dos jogos. Ela começou no Jornal Hoje, passou para Jornal Nacional e finalmente foi para o Fantástico, onde era a atração mais esperadas das noites de domingo.

Não sei precisar o ano, mas eu já estava trabalhando nos Correios, então foi depois de 1972, e fui almoçar na casa da minha avó Zulmira (Mainha). O meu tio-avô Zizinho me deu o dinheiro para fazer uma aposta para ele na Loteria Esportiva. Acho que era sexta-feira e levei o cartão para casa. No domingo fiquei esperando a hora da zebrinha anunciar os resultados.

Para minha decepção, não marquei nem um ponto na miserável da loteria. A vergonha foi tamanha que eu menti para Zizinho dizendo que “fizemos” cinco pontos…

Alguém, para me consolar, disse que fazer zero pontos era tão difícil quanto fazer treze pontos. Para mim foi o sumo da incompetência e o atestado de que não entendo nada de futebol.

E nunca mais, menino! Nunca mais.