16 de julho de 2022

Uma eleição turbinada

Por José Carlos Sá

Urna de votação em inspirada arte do Rogério Moreira (Reprodução/Arquivo ND)

As eleições no Brasil, e em muitos países, podem representar tudo, menos expressar da vontade do povo. Eu digo expressar mesmo.

A maioria dos eleitores vota por ser obrigatório, desconhecendo (ou não querendo saber) que a participação no processo político do país não se dá tão somente com a filiação partidária ou a devoção quase doentia a este ou àquele candidato.

O eleitor deveria ter consciência que aquele ato a cada dois anos, digitando números numa urna eletrônica e apertando o botão verde de “confirma”, tem consequências para ele próprio e para todos os outros 214.856.513 (estimativa do IBGE às 9h38, de 16072022; quando terminei esta postagem já éramos 214.856.604 e crescendo a cada 21 segundos) brasileiros.

Muita coisa interfere, determina ou orienta o voto do eleitor. A simpatia pura e simples; a atuação do candidato na política ou fora dela; o marketing político que doura a pessoa, destacando qualidades e minimizando defeitos de caráter; as promessas que ele faz na campanha eleitoral; a indicação de parentes ou amigos;e a força do capital, para não usar o jurisdiquês “captação ilícita de sufrágio”, que é proibida por lei.

É proibido por leis propostas e aprovadas pelo Congresso Nacional e executadas pelo Poder Judiciário. E aí está a contradição. O Congresso Nacional trabalha pela manutenção do atual cenário, situação e condição de uma casta que é quase uma Capitania Hereditária, passando para os descendentes ou membros do grupo político os mesmos vícios dos ancestrais.

Para as eleições deste ano a viga mestra para as campanhas começou a ser solidificada muito antes.

Destaco apenas três fatos que saltam aos olhos e batem na nossa cara: a aprovação do vergonhoso Fundo Partidário de R$ 5,7 bilhões, com direito a uma (combinada) derrubada de veto presidencial; a invenção durante a pandemia do “orçamento secreto”, que destinou cerca de R$ 16 bilhões em emendas, em que não se conhece o autor da proposta, nem o valor destinado a cada parlamentar. E por último – mas não menos importante -, a aprovação da PEC Kamikaze, nome dado pela própria equipe do Ministério da Economia, que considera um “suicídio” injetar mais de R$ 2,5 em benefícios sociais às vésperas das eleições.

Se utopicamente nas eleições todos tem a mesma chance de concorrer a qualquer um dos cargos disputados a cada dois anos, na prática isso está a anos-luz de se tornar realidade. Quem sabe se com o novo telescópio espacial da Nasa, o James Webb, consigamos enxergar uma luz no fim do buraco negro da política brasileira?