O mês de junho teve no noticiário nacional uma grande quantidade de informações, as mais variadas possíveis. Em um rápido levantamento, enumero as mortes do sertanista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips; o aumento dos casos de Covid-19 e da varíola dos macacos; a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro; pesquisa apontando o aumento da fome no Brasil; e os tristes casos da menina estuprada, que ficou grávida e da atriz, também estuprada, por ter tido o filho e o dado à adoção, e que foram condenadas pelo “juri popular” .
Além destas matérias quase oniscientes (para onde você olhasse as via), um outro fato chamou a atenção: a fuga de Sylas, uma cobra macho, jiboia arco-íris da Caatinga, de quase quatro anos e que vivia no apartamento da tutora dele no bairro de Perdizes, uma região que os coleguinhas costumam chamar de “alto padrão”.
O sumiço foi notado na manhã do dia 21 de junho e a guardiã dele resolveu avisar à vizinhança para prevenir o susto, garantir que o animal é “dócil” e evitar que a jiboia fosse morta. Um prêmio foi oferecido a quem desse notícias do desaparecido. Para felicidade geral dos moradores do entorno, Sylas havia se escondido dentro do fogão de casa e ficou lá quietinho – vendo o povo desesperado – até ser encontrado na noite do dia 26.
Se fosse vizinho, eu teria me mudado ao saber da escapada. Anotei o assunto para comentar um acontecimento correlato, mas passou batido e só hoje vi o lembrete.
Há alguns anos, as esposas de oficiais da Aeronáutica que estavam hospedadas no hotel de trânsito de uma base aérea no Amazonas, reclamaram com o comandante que ouviam ratos correrem sobre o forro dos apartamentos durante a noite. Prontamente o coronel chamou o tenente responsável pelas instalações e mandou resolver o problema. Na caserna, ordem dada é ordem cumprida.
Uma semana depois, ao reencontrar as senhoras que haviam feito a reclamação, o comandante perguntou a elas se o aborrecimento havia sido resolvido. Todas disseram que sim e que queriam agradecer ao oficial que solucionou a questão. O tenente foi chamado e recebeu os elogios, mas quando se despediu, perguntaram como ele tinha se livrado dos ratos. Ao invés de dar uma resposta genérica, ele foi sincero: “Coloquei uma jiboia no forro para comer os ratos!”
Desmaios.
A missão agora era encontrar e se livrar da cobra que rastejava furtivamente, sibilando, sobre as cabeças dos hóspedes do hotel de trânsito, onde, a partir daquele dia ninguém dormiu em paz.
Pouco tempo depois o grupo de resgate da cobra, que foi formado para localizar e capturar o ofídio, anunciou ter logrado êxito e localizado a serpente enrodilhada sob uma das panelas de pressão da cozinha do quartel.
Novas comemorações, até o tenente – aquele do começo da história – comentar em voz baixa: – Não era essa…