A Segunda Guerra Mundial é um dos meus temas favoritos. Sempre estou lendo ou assistisndo algum filme ou documentário sobre o evento que terminou há 77 anos, comemorados em setembro, mas que volta e meia tem uma novidade sendo descoberta ou um fato sendo mostrado por outro ângulo.
Quando era menino tive acesso na casa da minha avó a vários exemplares das revistas O Cruzeiro e Manchete, com edições comemorativas ao final da guerra. Li as reportagens escritas no calor da hora por Joel Silveira e Rubem Braga. Depois li dezenas de livros e assisti a centenas de filmes que abordavam desde estratégias militares a batalhas perdidas, os tipos de armas pessoais, tanques e aviões. Além de histórias de ficção ambientados na época, como o meu querido filme Casablanca (1942).
Em meio aos livros está O homem que nunca existiu (Edições do Exército Editora/1978), cujo exemplar me acompanhou até a nossa mudança de Porto Velho para São José da Terra Firme há três anos. A história é tão estranha que, por isso, Hitler caiu no engodo. Em 1943 as agências de inteligência do Exército de Sua Majestade britânica vestiram o cadáver de um homem que suicidou-se com veneno de rato, como se fosse um oficial da Marinha Real; colocaram nos bolsos documentos pessoais, cartas da namororada e do gerente de um banco, ingresso de teatro, conta de um alfaiate e algemaram ao seu braço uma pasta contendo documentos classificados como secretos.
Entre os documentos fictícios, uma carta de um general para outro informando que os aliados desembarcariam na Europa a partir da Grécia e da região da ilha da Sardenha na Itália, dois lugares distantes um do outro, justamente para dividir as tropas alemãs. O autor do livro, Ewen Montagu, foi o oficial da Inteligência Naval do Almirantado Britânico que junto com outrocolega planejou a Operação Mincemeat (carne moída), nome dado pelo próprio Primeiro-Ministro Wilston Churchull. A operação logrou êxito (como dizem os policiais nas entrevistas coletivas) e as forças aliadas invadiram a Sicília recebendo pouca resistências das tropas alemãs, já que o grosso dos soldados foi mandado para longe.
A história (História mesmo) conta que Hitler ficou traumatizado com a mentira que os alemães encontraram outros dois corpos de militares mortos conduzindo “planos secretos” que não tomou conhecimento deles. Se tivesse acreditado nos papéis que eram verdadeiros, a guerra poderia ter tomado outros rumos.
A Netflix lançou este ano o filme O soldado que não existiu (Operation Mincemeat/Reino Unido – 2022), baseado na mesma história, mas apimentada com outros ingredientes necessários ao desenrolar da trama, que na tela recebeu o aditivo de um relacionamento amoroso na equipe responsável pela operação, descoberta de espiões a favor e contra os ingleses e outros temperos acrescentados pela roteirista e pelo diretor.
Umas das falas do chefe da espionagem britânica chamou minha atenção. Ele diz que um dos documentos a ser levado pelo falso major – a carta de um general -, havia sido rejeitada por todos. A outra personagem pergunta que “todos”? E a resposta é uma graça: “O Comitê XX, os chefes das Forças Armadas, o pessoal de Informações Navais, a Divisão Q, o M15, o M16…” Se fosse aqui no Brasil, antes da reunião acabar, a Operação Mincemeat já teria sido vazada para a Imprensa.
Mesmo sabendo como a história terminou, assisti o filme até o final para ver se as imagens da película “batiam” com aquelas que minha imaginação havia criado ao ler o livro. Fiquei satisfeito e recomendo como entretenimento.
Serviço:
O quê: filme O Soldado que Não Existiu (Operation Mincemeat)
Diretor: John Madden
Ano: 2022
Onde: Netflix