01 de junho de 2022

Enganando Hitler

Por José Carlos Sá

A Segunda Guerra Mundial é um dos meus temas favoritos. Sempre estou lendo ou assistisndo algum filme ou documentário sobre o evento que terminou há 77 anos, comemorados em setembro, mas que volta e meia tem uma novidade sendo descoberta ou um fato sendo mostrado por outro ângulo.

Quando era menino tive acesso na casa da minha avó a vários exemplares das revistas O Cruzeiro e Manchete, com edições comemorativas ao final da guerra. Li as reportagens escritas no calor da hora por Joel Silveira e Rubem Braga. Depois li dezenas de livros e assisti a centenas de filmes que abordavam desde estratégias militares a batalhas perdidas, os tipos de armas pessoais, tanques e aviões. Além de histórias de ficção ambientados na época, como o meu querido filme Casablanca (1942).

Cartaz do filme e capa do livro sobre o engodo a Hitler (Fotos Divulgação)

Em meio aos livros está O homem que nunca existiu (Edições do Exército Editora/1978), cujo exemplar me acompanhou até a nossa mudança de Porto Velho para São José da Terra Firme há três anos. A história é tão estranha que, por isso, Hitler caiu no engodo. Em 1943 as agências de inteligência do Exército de Sua Majestade britânica vestiram o cadáver de um homem que suicidou-se com veneno de rato, como se fosse um oficial da Marinha Real; colocaram nos bolsos documentos pessoais, cartas da namororada e do gerente de um banco, ingresso de teatro, conta de um alfaiate e algemaram ao seu braço uma pasta contendo documentos classificados como secretos.

Falsa identidade militar do major William Martin (Reprodução)

Entre os documentos fictícios, uma carta de um general para outro informando que os aliados desembarcariam na Europa a partir da Grécia e da região da ilha da Sardenha na Itália, dois lugares distantes um do outro, justamente para dividir as tropas alemãs. O autor do livro, Ewen Montagu, foi o oficial da Inteligência Naval do Almirantado Britânico que junto com outrocolega planejou a Operação Mincemeat (carne moída), nome dado pelo próprio Primeiro-Ministro Wilston Churchull. A operação logrou êxito (como dizem os policiais nas entrevistas coletivas) e as forças aliadas invadiram a Sicília recebendo pouca resistências das tropas alemãs, já que o grosso dos soldados foi mandado para longe.

A história (História mesmo) conta que Hitler ficou traumatizado com a mentira que os alemães encontraram outros dois corpos de militares mortos conduzindo “planos secretos” que não tomou conhecimento deles. Se tivesse acreditado nos papéis que eram verdadeiros, a guerra poderia ter tomado outros rumos.

Escolhendo o corpo, no filme lançado pela Netflix (Divulgação)

A Netflix lançou este ano o filme O soldado que não existiu (Operation Mincemeat/Reino Unido – 2022), baseado na mesma história, mas apimentada com outros ingredientes necessários ao desenrolar da trama, que na tela recebeu o aditivo de um relacionamento amoroso na equipe responsável pela operação, descoberta de espiões a favor e contra os ingleses e outros temperos acrescentados pela roteirista e pelo diretor.

Umas das falas do chefe da espionagem britânica chamou minha atenção. Ele diz que um dos documentos a ser levado pelo falso major – a carta de um general -, havia sido rejeitada por todos. A outra personagem pergunta que “todos”? E a resposta é uma graça: “O Comitê XX, os chefes das Forças Armadas, o pessoal de Informações Navais, a Divisão Q, o M15, o M16…” Se fosse aqui no Brasil, antes da reunião acabar, a Operação Mincemeat já teria sido vazada para a Imprensa.

Mesmo sabendo como a história terminou, assisti o filme até o final para ver se as imagens da película “batiam” com aquelas que minha imaginação havia criado ao ler o livro. Fiquei satisfeito e recomendo como entretenimento.

Serviço:

O quê: filme O Soldado que Não Existiu (Operation Mincemeat)

Diretor: John Madden

Ano: 2022

Onde: Netflix