O final melancólico da pré-candidatura de João Dória à presidência da República mostrou um PSDB que já morreu, mas pensa que ainda está vivo. O partido que tem como principal característica ficar em cima do muro, abriu mão de Dória – que afinal representava a si mesmo – vencedor das prévias inventadas pelos tucanos e desrespeitadas por eles também. Agora não sabem o que fazer nas eleições de outubro.
Dória, que sonhava (ainda sonha) em ser presidente da República desde que se candidatou a prefeito de São Paulo em 2016, queimou etapas. Renunciou à Prefeitura e se elegeu governador em 2018, imediatamente montando o palanque para a eleição presidencial.
Parecia que ele estava indo bem. Pelo menos, as atitudes que tomou no início da pandemia o colocaram em destaque na Imprensa e, ao mesmo tempo, como alvo preferencial do presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição desde que assumiu o Planalto em 1° de janeiro de 2019. No entanto, Dória não conseguiu transformar em intenções de votos a aparente simpatia que grajeou nos embates pró-vacina contra a Covid.
O PSDB fingiu que aceitou o resultado das consultas prévias aos filiados do partido, às quais Doria venceu no primeiro turno. Entre a consulta realizada em novembro de 2021 e a convenção nacional, prevista para acontecer entre 20 de julho e 5 de agosto, muita coisa mudou.
João Dória foi “convencido” a desistir e agora uma ala tucana acena o apoio à pretensa candidata da 3ª via, a emedebista Simone Tebet enquanto outro grupo defende a candidatura própria, com a justificativa de ser esta a única forma do PSDB sobreviver.
Aí eu pergunto: Quem vai para o sacrifício cara-pálida? O mesmo que vai apagar as luzes do PSDB ao sair?
Enquanto escrevia isso aí acima, em uma das minhas sinapses, lembrei de um fato ocorrido nas eleições ao governo de Rondônia, em 1989. Eu trabalhava na campanha do então vice-governador Orestes Muniz, candidato pelo PMDB. Sem apoio, Orestes aparecia em último lugar nas pesquisas de opinião, bem atrás do senador Olavo Pires e do ex-prefeito de Rolim de Moura Valdir Raupp, os preferidos pelos eleitores.
Faltando algumas semanas para terminar a campanha, com os apoiadores desanimados e reconhecendo a derrota, fui testemunha do seguinte diálogo, entre um dos coordenadores da campanha de Orestes e um alto dirigente do PMDB:
– Seu Paulo, nós podíamos doar estas camisetas [havia dezenas de sacos cheios de camisetas na sede do PMDB, em Porto Velho] para o pessoal que mora nos sítios, ao invés delas ficarem aí, ocupando espaço…
– Não, Fulano. Estou guardando elas para o segundo turno!