E como eu estava dizendo… Depois de reler A revolução dos bichos entendi que deveria reler também a obra que foi baseada nela. A Fazenda Modelo foi escrita por Chico Buarque em 1974 e é uma alegoria do Brasil de então.
O que se passa na fazenda Modelo, propriedade do boi Juvenal, é um reflexo do país presidido pelo recém-empossado general Ernesto Geisel. Você tem a epidemia de meningite, a censura à Imprensa, o desaparecimento de pessoas contrárias ao regime, o protesto das mães dos desaparecidos, a crise do petróleo, a popularização dos aparelhos de tevê, o início das greves de trabalhadores e junto os fura-greves e a política pública da casa própria em conjuntos habitacionais para pessoas de baixa renda.
A Fazenda Modelo (Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro/1976 – 7ª edição) era um Brasil em miniatura, descrito assim pelo autor logo na apresentação: “Tinha. Rouxinol? Tinha. Luar do sertão, palmeira imperial, girassol, tinha. Também tinha temporal, barranco, às vezes lamaçal, o diabo. Depois bananeira, até cachoeira, mutuca, boto, urubu, horizonte, pedra, pau, trigo, joio, cactus, raios, estrela cadente, incandescências. Enfim.”
Juvenal, o Bom Boi foi nomeado conselheiro-mor da fazenda. Ele era considerado “redundante e truculento”, mas recebeu o apoio da classe produtora. Usava sempre “esses óculos escuros, de fundo de garrafa, sempre, mesmo de noite e em ambiente fechado” e com algumas medidas enérgicas pacificou o povo, digo, o gado da fazenda. Aqueles que eram contrários foram isolados dos demais e, se não aderissem ao sistema, desapareciam.
Ao final, a experiência pecuária não se sustenta e as matrizes de reprodução são dizimadas, e Juvenal mandou plantar soja nos pastos, “porque resulta mais barato, mais tratável e contém mais proteína”.
E fim.