13 de janeiro de 2022

Buscando Caminhos – A resenha de hoje

Por José Carlos Sá

Capa da obra póstuma de João Correia (Reprodução)

Ganhei o livro do meu amigo Hokney França, na nossa última visita a Porto Velho, em novembro de 2021. O autor, João Batista Guilherme Correia, faleceu em fevereiro do ano passado, por parada cardíaca em decorrência da Covid-19 e a família resolveu distribuir entre os amigos o livro que ele não viu ser publicado. Uma belíssima homenagem póstuma. Apesar de eu ser membro da Academia de Letras de Rondônia, da qual João era um dos imortais, só o conheci de vista, nas poucas reuniões a que ambos participamos.

Uma foto emblemática (Foto página João Correia/Facebook)

Buscando Caminhos (Temática Editora, Porto Velho/2021) vem bem apresentado pelos amigos Abel Sidney, Lúcio Albuquerque, Júlio Olivar e José Monteiro e traz poemas, crônicas poéticas e cordéis, na temática sócio ambiental, com tangência em assuntos bem porto-velhenses, como a Bailarina da Praça e a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. João Correia canta a terra natal, Ibuguaçu – CE, as montanhas e o povo da região. Asuzinas não poderiam faltar em um texto onde os peixes do Madeira são os narradores da tragédia anunciada por uma jatuarana conhecedora do rio: “É uma tal barragem. Vão prender a água e soltar aos pouquinhos para fazer uma roda cheia de dentes girar e produzir uma tal energia elétrica”.

Entre as poesias, publicadas no livro Buscando Caminhos, destaco:

“Diálogo com a imprensa

E daí? / Não sou coveiro / sou presidente / em mando / nomeio / exonero / e ponto final. / Apoio o Guedes / que lá no Nordeste / é apelido de jumento. / Nada a ver / foi apenas / e tão somente / uma gripezinha / que não me afeta / sou atleta / presidente. / E daí? / Cala a boca, / eu mando.”

“Brasileiro puro

Eu sou a estrada perdida / sem rumo, sem rota, sem vida / sem pontes, sem rios ou matas; / só deserto, só sol e sem arte / que vai e vem sem sentido / em duas mãos / completamente mortas. // Minhas curvas são retas e tortas / e minhas retas são tortas e tolas / desvairadas, egoístas e mortas; // não sou saída, nem entrada… / sou apenas uma coisa / reta e torta; // sou a busca do nada / o amargo de tudo / o começo do fim.”

Eu reproduzo, também, alguns versos de “Orelhões”, onde o autor faz uma justa homenagem às inesquecíveis e populares cabines telefônicas, que começaram a ser instaladas pela primeira vez no Brasil em 1972 e funcionaram bem até a primeira década dos anos 2000: “(…) Porto Velho foi crescendo / o número de orelhões também / muitos foram instalados / aqui no centro e além / para atender o povo / e o faziam muito bem // (…) O tempo passou depressa / a tecnologia também / e os nosso orelhões / os do centro e os além / estão todos abandonados / não valem um vintém // Logo depois que inventaram / esse tal de celular / aos pobres orelhões / restou apenas chorar / são tristes, solitários / com tantas histórias a contar (…)” E o poema segue descrevendo um sentimento que eu comungo, de gratidão ao extinto meio de comunicação e (para mim) tema de muitos pôstes no Banzeiros e publicações no também extinto jornal Alto Madeira.

O poeta João Correia nasceu em Ibuguaçu, Granja, no interior do Ceará, em 1945. Viveu em algumas cidades brasileiras até chegar a Rondônia em 1986 (mesmo ano em que cheguei), onde ocupou vários cargos públicos, entre eles o de Representante Regional de Ensino em Jaru. Era irmão do ex-prefeito de Porto Velho Tomás Correia. O professor Abel Sidney me disse que em breve a Temática Editoras lançará mais uma obra póstuma do poeta João Correia.