Este livro estava na minha estante eletrônica há, mais ou menos, um ano e ontem me deu vontade de lê-lo, o que fiz em algumas horas. A obra foi lançada em 2002, quando o autor já tinha 30 anos de atividades na cobertura política de Minas Gerais. Geraldo Elísio Machado Lopes, apelidado de “Pica-pau” devido ao nariz grande, viveu os bastidores do Palácio da Liberdade – sede do governo mineiro – e da Assembleia Legislativa. Conheci de perto ou de nome a maioria das personagens desse livro.
Eu já o conhecia através da cobertura política e fui ser “colega” quando em 1983 assessorei um deputado estadual. A palavra “colega” está entre aspas porque os jornalistas que cobriam a ALMG não se “misturavam” com os jornalistas que trabalhavam em assessoria. E ainda havia naquela época uma casta de jornalistas mais antigos pertencentes à uma organização chamada CEPO – Centro de Cronistas Políticos e Parlamentares, que segundo se comentava nos corredores do nosso Sindicato, era quem detinha as principais assessorias de Imprensa no Executivo, Legislativo e Judiciário e indicava, dentre eles em rodízio, os novos assessores quando havia a mudança dos titulares daqueles poderes.
O livro Plenário à moda antiga (Editora Sografe, Belo Horizonte/2002) traz causos acontecidos com os políticos mineiros, uns muitos conhecidos e outros ganharam destaque justamente nos acontecimentos em que participaram e entraram para o folclore, Destaques para os ex-presidentes Tancredo Neves, Jânio Quadros e Itamar Franco, além de inúmeros governadores, prefeitos, vereadores e simples “cabos eleitorais”, além de jornalistas que também protagonizaram fatos pitorescos.
Reproduzo algumas histórias das quais gostei:
Luiza Erundina
“Dizem, Luiza Erundina, do PT, era ministra do presidente Itamar Franco. Sem nenhum conversa prévia com ele, pelos jornais, anunciou a possibilidade de pedir demissão. O ministro Henrique Hagreaves [ministro-chefe da Casa Civil] telefonou para Erundina e estabeleceu-se o seguinte diálogo:
– Ministra, estou vendo nos jornais que a senhora estaria demissionária?
– Não, ministro… eu ainda não pensei nisto.
– Então, daqui para a frente a senhora já pode começar a pensar!”

Geraldo Elísio (esq) com Luís Carlos Prestes em entrevista no Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais – Década de 1980 (Reprodução)
Luís Carlos Prestes
“Na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, uma entrevista do líder comunista Carlos Prestes. A jornalista Ângela Carrato pergunta:
– Qual a opinião do senhor a respeito dos atuais partidos de esquerda?
Prestes dispara:
– Não existem mais! São todos burgueses!
O Muro de Berlim não havia caído e existia ainda a União Soviética.”
Jânio & Tancredo
“Jânio tinha fama de beberrão e Tancredo de contemporizador político. Os dois se encontraram em São João Del Rei, no Solar dos Neves, para discutir questões nacionais. Na época, Elis Regina era o sucesso do momento, e o Brasil inteiro cantava uma música dos compositores João Bosco e Aldir Blanc, entre outras coisas falando de “Marias e Clarices” e “da volta do irmão do Henfil”, o sociólogo Betinho. Lá pelas tantas TN e JQ aprecem juntos em uma janela, e o jornalista Otaviano Lage disparou: “Olha lá… o bêbado e o equilibrista!””
Mala preta
“Em campanha política, fui com Eliseu Resende [candidato a governador] à cidade de Uberaba. Tão logo o avião aterrissou e desci, fui abordado por um jornalista local. Ele me pediu para conversar reservadamente e nos afastamos para um local discreto do aeroporto. A primeira pergunta foi a seguinte:
– O que você é?
– Coleguinha… jornalista como você.
De onde estava, ele gritou para outro grupo mais afastado:
– É colega da gente… Não é o mala preta não!”
Grosso
“Israel Pinheiro tinha fama de mal-humorado. Um dia, chamou uma das secretárias e indagou:
– Angelina, eu sou ríspido, mal-educado, um bruto?
– Claro que não, doutor Israel. O senhor é um homem educadíssimo!
– Então sai logo de perto, que eu estou a fim de te dar um coice.”
Bom para quem gosta de política e de causos.