Por estar com saudades da música, coloquei para tocar uma canção do Noel Rosa de que eu gosto muito.
“Não tem tradução” foi composta em 1933, quando o cinema falado chegava com força ao Brasil. O país já tinha vínculos com a Inglaterra, mas se limitava às relações comerciais e diplomáticas, com alguma coisa informal nos portos, com a chegada de marujos de origem bretã ou norte-americana.
[Pausa para a música]
“O cinema falado é o grande culpado da transformação
Dessa gente que sente que um barracão prende mais que um xadrez
Lá no morro, se eu fizer uma falseta
A Risoleta desiste logo do francês e do Inglês (…)” Sem Tradução – Noel Rosa
[Voltemos ao assunto]
A indústria do cinema norte-americano, representada pelos estúdios localizados no distrito de Hollywood (Los Angeles), chegou para valer e influenciou culturalmente praticamente todo o mundo, impondo mudanças de hábitos comportamentais, na alimentação, vestuário e vocabulário.
O Brasil do início do século 20, que ainda tinha uma forte influência da França, foi substituindo rapidamente a fonte de domínio cultural, adotando os usos e costumes do “american way of life” e o uso de palavras em inglês é uma prática impregnada de forma indelével em nosso linguajar. Começou com o cinema e a música, passou pelo ‘marketing’ e agora foi reforçada na era da informática.
Nos anos 1960, o ensino da língua inglesa nas escolas, apesar de já existir no Brasil desde o Império, era mais comum nas escolas particulares e só as escolas públicas localizadas nas capitais e nas grandes cidades é que ofereciam a disciplina .
Treinando o idioma
No recesso de meio de ano (que no meu tempo se chamava “férias de julho”), a jovem foi à cidade do interior passar uns dias com os pais. Ela teve dor de dente e precisou ir até o consultório de um dentista para verificar o problema. Enquanto era atendida a menina foi olhando as indicações das marcas dos diversos instrumentos importados usados pelo dentista. Ao final do procedimento ela perguntou ao odontólogo:
“Doutor, como o senhor sabe, eu moro em Belo Horizonte e no meu colégio tenho aulas de inglês. Durante o tempo em que o senhor tratava o meu dente fiquei lendo as etiquetas com os nomes dos equipamentos e consegui traduzir todos, menos aquele ali” e apontou para a lixeira em um canto do consultório.
– Páise nou pídau! Não entendi…
O dentista sorriu para a poliglota e explicou:
– Aquele ali não é importado. Está escrito: “Pise no pedal”!