19 de novembro de 2021

Não tem tradução

Por José Carlos Sá

Caricatura de Noel Rosa (Autor não identificado)

Por estar com saudades da música, coloquei para tocar uma canção do Noel Rosa de que eu gosto muito.

“Não tem tradução” foi composta em 1933, quando o cinema falado chegava com força ao Brasil. O país já tinha vínculos com a Inglaterra, mas se limitava às relações comerciais e diplomáticas, com alguma coisa informal nos portos, com a chegada de marujos de origem bretã ou norte-americana.

[Pausa para a música]

O cinema falado é o grande culpado da transformação
Dessa gente que sente que um barracão prende mais que um xadrez
Lá no morro, se eu fizer uma falseta
 A Risoleta desiste logo do francês e do Inglês (…)” Sem Tradução – Noel Rosa

[Voltemos ao assunto]

A indústria do cinema norte-americano, representada pelos estúdios localizados no distrito de Hollywood (Los Angeles), chegou para valer e influenciou culturalmente praticamente todo o mundo, impondo mudanças de hábitos comportamentais, na alimentação, vestuário e vocabulário.

O Brasil do início do século 20, que ainda tinha uma forte influência da França, foi substituindo rapidamente a fonte de domínio cultural, adotando os usos e costumes do “american way of life” e o uso de palavras em inglês é uma prática impregnada de forma indelével em nosso linguajar. Começou com o cinema e a música, passou pelo ‘marketing’ e agora foi reforçada na era da informática.

Nos anos 1960, o ensino da língua inglesa nas escolas, apesar de já existir no Brasil desde o Império, era mais comum nas escolas particulares e só as escolas públicas localizadas nas capitais e nas grandes cidades é que ofereciam a disciplina .

Treinando o idioma

Páise nou pídau (Foto Internet editada)

No recesso de meio de ano (que no meu tempo se chamava “férias de julho”), a jovem foi à cidade do interior passar uns dias com os pais. Ela teve dor de dente e precisou ir até o consultório de um dentista para verificar o problema. Enquanto era atendida a menina foi olhando as indicações das marcas dos diversos instrumentos importados usados pelo dentista. Ao final do procedimento ela perguntou ao odontólogo:

“Doutor, como o senhor sabe, eu moro em Belo Horizonte e no meu colégio tenho aulas de inglês. Durante o tempo em que o senhor tratava o meu dente fiquei lendo as etiquetas com os nomes dos equipamentos e consegui traduzir todos, menos aquele ali” e apontou para a lixeira em um canto do consultório.

– Páise nou pídau! Não entendi…

O dentista sorriu para a poliglota e explicou:

– Aquele ali não é importado. Está escrito: “Pise no pedal”!

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Belo Horizonte Leseira Minas Gerais Noel Rosa 

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