Li a obra de Joshua Slocum, Sozinho à volta do Mundo (Livraria Aster, Lisboa, S/D) demorando mais que o habitual. Além da edição ser antiga em português europeu, ainda havia muitos termos náuticos fazendo com que eu interrompesse a leitura para consultar o Google e saber do que o autor estava falando. Prefiro fazer isso na hora, pois se deixar para depois, esqueço e perco o enredo.
Na primeira parte da publicação, Slocum, que é capitão do navio mercante Aquidneck, viaja com a família – mulher e dois filhos -, além da tripulação de dez homens, cruzando o oceano fazendo fretes. Uma das situações que enfrentou foi no final do Século XIX, quando apareceu uma epidemia de cólera na América do Sul e o navio tinha uma carga para Buenos Aires. Chegando lá não pode atracar devido ao cólera, então ele rumou para o Rio de Janeiro, onde também não conseguiu aportar. Ao saber que a situação da doença havia amenizado, seguiu novamente para a Argentina. Ao término desta viagem dispensou a tripulação, que embarcou em outros navios de volta para os Estados Unidos.
Sem alternativa, o capitão contratou a mão de obra que estava disponível naquele momento no porto de Buenos Aires: homens em ‘conflito com a lei’, que haviam sido libertados dos presídios devido ao cólera. Para resumir, o timoneiro estava cumprido pena por latrocínio e foi o primeiro a se rebelar assim que o navio iniciou a rota para o novo destino. Joshua Slocum, sabendo que estava sendo testado, pagou todo o salário ao amotinado e mandou desembarcá-lo, tendo um escaler o levado até a margem do Rio da Prata.

O barco “Liberdade”, construído no Brasil, que levou Slocum e família de volta aos EUA (Ilustra autor)
Após desencumbir-se da nova carga no Rio de Janeiro, dispensou o restante da tripulação e seguiu rumo norte para retornar aos Estados Unidos. Na altura de Cabo Frio o navio bateu em umas pedras e naufragou. Com os conhecimento náuticos que possuía, Slocum e o filho Victor construíram um pequeno barco, o Liberdade, em homenagem à Abolição da Escravatura no Brasil, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, ano em que o barco foi construído. Aos trancos e barrancos, ou melhor, entre tempestades e calmarias, conseguiram navegar pela costa brasileira e pelo Caribe, conseguindo chegar aos Estados Unidos, seguindo para onde tinha residência, por rios e canais abertos em áreas inundáveis.
Aos 51 anos Joshua Slocum se lançou em outra aventura. Ganhou um velho barco e o recuperou em um trabalho de dois anos. Depois se jogou ao mar novamente, agora para dar a volta ao mundo. O cara conseguiu o feito, navegando por três anos , fazendo 46 mil milhas ou 74.029,64 quilômetros. Além do único tripulante não ter dinheiro, aquela viagem não teve patrocinador e o barco não tinha motor ou rádio. Slocum é considerado o primeiro homem a navegar sozinho a dar a volta ao mundo e é patrono da navegação esportiva.
Na volta para casa, o barco foi ancorado no mesmo local de onde partira, em Boston.
O livro é uma boa narrativa das viagens, o que quase me provocou enjoos, só de imaginar as situações enfrentadas nestas estrepolias. A leitura reforçou a minha certeza que nasci para caranguejo. A praia é um lugar agradável e seguro. Recomendo para quem gosta ou pretende navegar.
* Esta é a última sinopse desta editoria, uma vez que não estou mais em confinamento. Continuarei fazendo meus comentários sobre os livros que li com outro título.