04 de outubro de 2021

São José da Terra Firme na Revolução de 1930

Por José Carlos Sá

Pedaço de uma palmeira, da praça principal de São José, atingida pelo bombardeio da esquadra federal fundeada em Florianópolis (Foto JCarlos)

O Museu Histórico Municipal Gilberto Gerlach guarda no seu acervo, em uma caixa de vidro, um pedaço do tronco de uma palmeira com um buraco oval. Não havendo nenhuma legenda ou etiqueta explicando aquela peça. Procurei o funcionário que estava de plantão (era um domingo) e perguntei o significado daquele caule danificado.
A explicação é de que na Revolução de 1930 os revolucionários que apoiavam o golpe de Estado comandado pelos gaúchos (leia-se Getúlio Vargas) bombardearam o centro de São José, onde estavam os insurgentes, de um torpedeiro de guerra fundeada na baía sul, em frente à cidade.
O pouco que eu tinha lido sobre aquela revolução, que neste início de outubro está fazendo 91 anos, aprendi que as tropas revolucionárias marcharam sobre o Rio de Janeiro – então capital do país – a pé ou embarcadas em comboios ferroviários. Houve reação da Marinha até a queda do presidente da República.

Ilustração sobre a Revolução de 30 no trapiche de São José (Foto JCarlos)

No piso do trapiche do Centro Histórico de São José, onde a história da cidade é contada desde a chegada dos primeiros casais de açorianos em 1748 existe a seguinte inscrição, feita pelo artista plástico Plínio Verani: “Nos incertos  dias de outubro de 1930, mês da grande revolução que tão belicosamente movimentou nosso Estado, o destroier Sta. Catarina postou-se frente à cidade de S. José lançando petardos contra a sede. A cidade foi tomada pelas forças revolucionárias que se instalaram no Theatro. A população, como em 1777*, fugiu para as Forquilhas e Sertão do Maruim. Os disparos fizeram muitos estragos nos casarões, derrubaram árvores e atingiram duas palmeiras. Em 25 de outubro de 30 as forças revolucionárias de Getúlio Vargas depunha o presidente Washington Luiz. Florianópolis e São José eram os últimos focos legalistas. O governador Fúlvio Aducci fugiu sendo preso depois no Rio de Janeiro, e o prefeito de São José Sr. Nestor Antonio Kretzel foi deposto.”

O contratorpedeiro Santa Catarina foi um dos navios de guerra que bombardeou São José (Foto Acervo Diretoria de Patrimônio e Documentação da Marinha do Brasil)

Segundo as informações da Diretoria de Patrimônio e Documentação da Marinha, o contratorpedeiro foi mandado construir nos Estaleiros Yarrow, na Inglaterra, e foi incorporado à Esquadra em setembro de 1910, recebendo baixa do serviço ativo da Marinha do Brasil em julho de 1944. Na folha de serviços do navio de guerra consta: “Do dia 17 ao dia 24 de outubro de 1930, as artilharias dos Contratorpedeiros Santa Catarina e Maranhão atiraram contra a povoação de Palhoça [e São José] (SC). Até o dia 24 a situação permaneceu inalterada com Florianópolis sob o poder dos legalistas, assim as forças navais recebem ordem para cessar hostilidades, emitida pela Junta Governativa Provisória que se formou no Rio de Janeiro”.

Os Contratorpedeiros Santa Catarina,  Maranhão e Paraná estavam ancorados em Florianópolis quando a revolta começou e ficaram sob o comando do almirante Heráclito Belfort Vieira, responsável pela Força Naval de Operação Sul.

E assim entendi a presença daquele pedaço de palmeira no museu.

* 1777 – Invasão de tropas espanholas à Ilha de Santa Catarina, então domínio da Coroa Portuguesa