O estudo da História mundial está sempre em discussão, tendo em vista novos entendimentos e pesquisas sobre fatos passados. Assim, alguns pesquisadores oferecem interpretações daquilo que aconteceu há muito tempo sob o ponto de vista atual, deixando de lado o contexto da época.
É o chamado “anacronismo”, do grego ἀνά “contra” e χρόνος “tempo”. Dessa forma, por exemplo, os atos dos bandeirantes – que na época eram conhecidos como paulistas ou sertanistas -, têm uma reinterpretação que fica longe das ações daquelas pessoas brutas em um ambiente mais inóspito ainda.

A escultura que representa o bandeirante paulista Borba Gato foi incendiada em São Paulo (Foto Thatá Haliski/Via Twitter)
Desde sábado, 24 de julho, que leio e medito sobre a ação de um grupo que colocou pneus em torno da estátua do bandeirante Borba Gato, no bairro paulistano de Santo Amaro e tacou fogo. O ato simbólico ganhou o noticiário da imprensa tupiniquim, superando as notícias sobre a Covid-19. A partir de então se iniciou uma discussão que abandona os aspectos históricos e chega carregado de significados políticos no bipolarização atual: a esquerda apoiando o protesto e a direita pedindo a punição dos incendiários.
E a coisa fica nisso, sem aprofundar em reflexões quanto ao papel que o sertanista representado na escultura defumada teve realmente na História do Brasil, na época em que viveu, nas condições da época. Mas isso não interessa hoje, quando a polarização ganhou as ruas e o debate civilizado se esvaziou.