Nos táxis, desde há muito, os assuntos para puxar conversa com o motorista ou dele com o passageiro sempre foram clima e política. Já me esquivei muito de emitir comentários sobre política, pois aprendi que religião e política não se discutem (regra que nem sempre obedeci), ainda mais nos tempos atuais quando os nervos estão à flor da pele.
Estava voltando para casa. O motorista do aplicativo estava calado até que uma doblô dos Correios nos deu uma fechada. O condutor resmungou algo ininteligível. Depois, olhando para mim pelo espelho retrovisor, perguntou (jogou a isca): – O senhor é a favor ou contra a privatização dos Correios? – Sou a favor, disse, já me arrependendo.Ele enumerou alguns argumentos pela privatização e eu pensei que o assunto estava encerrado, mas não estava. Ele dava linha, para que o anzol se fixasse melhor na minha boca. – E o que o senhor acha do voto impresso? Quis saber. – Sou contra. Seria um retroces… Não consegui completar a frase. Ele iniciou um monólogo, falando alto.
“A única ‘instituição’ respeitada no Brasil era o jogo do bicho, porque era escrito – agora, não. colocaram no computador! Tudo que passa por um computador pode ser fraudado! Como é feito o sorteio da Mega-Sena? [Eu não sei, eu não jogo, tentei responder]. Você vê na tevê aquela palhaçada do sorteio das bolinhas, mas só caem as que eles querem. Tem o código de barras, que direciona o resultado. Só saem os números que eles querem… – Mas o presidente foi eleito em eleições usando urnas eletrônicas… – Foi por causa da quantidade de votos, aí eles não puderam falsificar…”
E blá, blá, blá, blá até chegar em minha casa. Deúsolivre! Tenho que aprender a ficar calado.