07 de julho de 2021

A história aos pedaços

Por José Carlos Sá

Estudamos a História aos pedaços. Talvez por ter muitos assuntos, se faz um “resumão” e a gente vê os fatos no formato “paisagem”. Um ou outro tema é mais explorado. O mais gostoso é você saber que já transitou em alguns dos lugares relacionados com fatos importantes da História do Brasil.

Digo isso por estar lendo o livro “Escravidão – Da corrida do ouro em Minas Gerais até a chegada da corte de dom João ao Brasil”, segundo volume da trilogia sobre o tema, do jornalista e escritor Laurentino Gomes.

No capítulo 1, A Fronteira, Laurentino conta como o descobrimento de minas de ouro e diamantes em uma vasta região do território dominado por Portugal fez com que a Coroa criasse mais de cem pontos de fiscalização para coletas de impostos e combate ao contrabando (ô inocência!*). O autor cita alguns: “Arraias, no sudeste do atual estado do Tocantins; Jauru, no Mato Grosso e nas margens do rio Madeira no hoje estado de Rondônia”.

Igreja matriz de São Gonçalo, provavelmente na década de 1930 (Foto IBGE)

Em Minas Gerais, um dos registros foi instalado no atual município de Contagem, uma cidade conurbada com Belo Horizonte, onde moram minha mãe e minhas irmãs. Residi lá alguns anos, até me mudar para Rondônia em 1986. Escreve Laurentino: “(…) o registro ficava no Sítio das Abóboras, onde uma capela dedicada a São Gonçalo do Amarante daria origem ao arraial de São Gonçalo da Contagem das Abóboras (…)”. Quando mudamos para o município, os nascidos da cidade eram pejorativamente chamados de “abobrenses”. Há várias teorias sobre a origem do nome Contagem, mas é a primeira vez que leio a relação com o fisco português.

Cachoeira de Teotônio, no Rio Madeira, em 1868 (Ilustra de publicada no livro de Franz Keller-Leuzinger, Vom Amazonas und Madeira, 1874)

Já o registro instalado no rio Madeira ficava na cachoeira de Salto Grande, onde o juiz de fora Teotônio da Silva Gusmão instalou a mesa de renda, por determinação do capitão general (governador) do Mato Grosso, Antônio Rolim de Moura Tavares, obedecendo a Carta Régia de 1748. O local passou a ser denominado cachoeira de Teotônio, mas quase ninguém sabe a razão do nome do acidente geográfico que não existe mais. Foi submerso pelo lago da Hidrelétrica Santo Antônio.

Monumento ao Tropeiro, em Lapa – PR, remete ao Brasil Colônia (Foto Viagens e Caminhos. Com)

Outro lugar citado no volume dois do livro Escravidão, onde também já estivemos, é a cidade de Lapa, no Paraná. Lá, junto com Viamão, no Rio Grande do Sul e Sorocaba, em São Paulo, foram instalados postos de tributação das tropas de muares e animais de tração usados para transportar alimentos para as zonas mineradoras

Laurentino acrescenta que “esses postos de fiscalização às vezes iam mudando de lugar à medida que os contrabandistas e sonegadores de impostos abriam novas rotas clandestinas para burlar a fiscalização”.

O Brasil atual continua do mesmo jeito…

* Os contrabandistas sempre estão à frente das autoridades