Quando eu comecei trabalhar em rádio – primeiro cobrindo as férias de um colega e depois contratado – o meu horário era das 22h às 2h da madrugada. Eu saía correndo para ver se alcançava o ônibus que passava no meu bairro cuja saída era às 2h30. Geralmente não alcançava. Esperava o outro que passava há dois quilômetros de onde eu morava, mas, geralmente, eu só conseguia ir para casa no horário das 4 horas.
Às vezes chegava tão cansado que sentava na poltrona para tirar os sapatos e por ali mesmo eu dormia. Mais ou menos 7h30, as crianças acordavam e começavam a fazer barulho, mesmo com o pedido de silêncio. Quase todo dia o primo deles era deixado lá em casa para brincar. Como ele era o mais velho, a arruaça crescia de intensidade e ele era daquele tipo que fazia o contrário do que você pedia. Ou seja eu não conseguia dormir, mesmo com a porta da sala fechada.
Um dia resolvi usar um método de “psicologia infantil” ensinado pelo meu ex-chefe Lineu. Quando o Juninho estava agitando a galera eu acordei de mau humor (ainda acontece quando me acordam sem necessidade) e eu chamei:
– Aposto que sua bunda é rachada!
– É não, Récarlo!
– É sim. Vai lá no banheiro e olha no espelho…
Ele foi e voltou fazendo beicinho de choro. “Meu pai vai consertar!”
Em um outro dia a bagunça continuou, com ele no comando…
– Juninho, vem cá!
– O que é Récarlo?
– Aposto que suas mãos são cheias de dedos…
– É não!
– Olha aí, que tanto de dedo você tem! Para que tanto dedo, menino?
Aí ele chorou mesmo. Tive, pelo menos, uma semana de sossego, já que contou ao pai, que ficou aborrecido comigo.
Ora, ora, ora…