Pouco depois de eu ter deixado a Aeronáutica, em 1980, fui contratado pela Famuc (Fundação de Assistência Médica de Urgência de Contagem), juntamente com o colega Umberto (“Sem agá!”). Ambos auxiliares do Departamento de Pessoal. Ele encarregado do ponto (assiduidade e pontualidade) e eu dos cálculos das demissões e do Fundo de Garantia.
O Coelho Branco sempre atrasado, de Alice no País das Maravilhas (Estúdio Disney)
Assim que chegamos da reunião de apresentação dos demais colegas, ficamos sabendo dos “problemáticos”: gente que faltava muito, gente que chegava atrasada, gente que saía antes da hora e que todos estes reclamavam quando era descontado do salário deles estas irregularidades. Falaram de um médico, em particular, lotado em um Posto de Saúde em um bairro distante. Ele faltava muito e chegava atrasado com regularidade. O salário vinha sempre com desconto e ele ia ao Departamento de Pessoal (naquele tempo não tinha “RH”) e reclamava que estava sendo perseguido.
– O dr. Fulano diz que somos subrepititícios! Eu não sei o que é isso, mas não fazemos nada errado. Ele é que não cumpre o horário, disse o meu novo chefe.
O pessoal tinha medo do médico, que além de xingar, usava palavras que ninguém sabia o que era e nem procuravam saber.
Curioso, pois não conhecia a palavra, cheguei em casa e fui direto ao dicionário. Estava lá, na segunda acepção: “Sub-reptício: Adjetivo – feito às ocultas; furtivo, dissimulado, clandestino”
No dia seguinte expliquei aos colegas que o médico achava que o funcionário o estava lesando. Sugeri que quando o doutor fosse reclamar – se houvesse falta naquele mês -, mostrassem a ele a folha de ponto, onde o chefe do posto de saúde apontava as faltas, atrasos e saídas antes da hora.
Acabou a reclamação.