Apesar de ter um repertório grande de piadas sobre doidos, isso ao mesmo tempo me dá uma grande insegurança quando estou perante uma pessoa que está com o juízo mental avariado. Exemplos? Tenho dois:
1 – Na chegada do novo diretor ao hospital de saúde mental (originalmente ‘hospício’), ele foi interceptado por um homem que estava trabalhando no jardim e que foi falando: “Bom dia. Suponho que o senhor seja o novo diretor. Meu nome é Pedro e estou internado aqui há quase dez anos, pois minha família queria ficar com minha fortuna. Eu já tentei provar de todas as formas que eu sou são e ninguém acredita. Gostaria de pedir que o senhor fizesse uma avaliação no meu prontuário. Tenho certeza que terei alta”. O médico ficou impressionado e se comprometeu a se interessar pelo caso. Agradeceu e se despediu.
Ao colocar a mão na maçaneta para abrir a porta da recepção, um tijolo explodiu na parede, bem à altura da cabeça dele. O diretor se virou para ver quem havia arremessado o tijolo e viu o Pedro com o dedo apontando para ele, dizendo: “Não vai esquecer…”
Quando trabalhava nos Correios e tinha que ir entregar cartas no Hospital Raul Soares (hoje, Instituto de Saúde Mental) eu já começava me tremer. Entre o portão e a recepção havia um grande jardim (foto) e eu entrava e saía esperando um tijolo bater na minha cabeça!
2 – Um homem barbudo visitava uma ala de doentes mentais que eram mantidos em celas trancadas. Na terceira cela, o ocupante chamou o homem para mais perto e disse: “O senhor, com essa barba bonita, tenha cuidado, não se aproxime das grades. Esses doidos aí podem agarrar sua barba e machucar o senhor!” O homem agradeceu e manteve distância das grades.
Ao sair, resolveu voltar e agradecer o homem que o havia alertado: “Queria agradecer ao aviso que o senhor me deu” e, aproximou-se da grade. O doido segurou a barba com as duas mãos e sacudindo, dizia: “EU-NÃO-DIS-SE-PA-RA-VO-CÊ-NÃO-SE-A-PRO-XI-MAR-DAS-GRA-DES???”
No final de 1986 fui enviado para o interior de Rondônia para gravar um vídeo sobre a situação do Hospital Estadual de Ji-Paraná (não sei se a denominação correta era esta), cujas instalações eram um aproveitamento de um antigo presídio. Detalhe: Fizeram poucas obras de adaptação.
O diretor nos levou para visitar uma ala onde ainda existiam celas, com grades e camas de concreto. Em uma delas estava internada uma mulher com malária. Nas outras duas celas havia dois homens com problemas mentais. Um deles começou a cantar o Hino Nacional, quando ligamos a iluminação. O outro, me chamava mais perto para contar como estava sendo tratado naquele hospital.
Eu não usava barba, mas tinha cabelos…
Óqui, ó!