01 de fevereiro de 2021

Medo de doido

Por José Carlos Sá

Apesar de ter um repertório grande de piadas sobre doidos, isso ao mesmo tempo me dá uma grande insegurança quando estou perante uma pessoa que está com o juízo mental avariado. Exemplos? Tenho dois:
1 – Na chegada do novo diretor ao hospital de saúde mental (originalmente ‘hospício’), ele foi interceptado por um homem que estava trabalhando no jardim e que foi falando: “Bom dia. Suponho que o senhor seja o novo diretor. Meu nome é Pedro e estou internado aqui há quase dez anos, pois minha família queria ficar com minha fortuna. Eu já tentei provar de todas as formas que eu sou são e ninguém acredita. Gostaria de pedir que o senhor fizesse uma avaliação no meu prontuário. Tenho certeza que terei alta”. O médico ficou impressionado e se comprometeu a se interessar pelo caso. Agradeceu e se despediu.
Ao colocar a mão na maçaneta para abrir a porta da recepção, um tijolo explodiu na parede, bem à altura da cabeça dele. O diretor se virou para ver quem havia arremessado o tijolo e viu o Pedro com o dedo apontando para ele, dizendo: “Não vai esquecer…”

Jardim do Instituto Raul Soares para doentes Mentais, no bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte (Foto Casa de Comunicação/Facebook)

Quando trabalhava nos Correios e tinha que ir entregar cartas no Hospital Raul Soares (hoje, Instituto de Saúde Mental) eu já começava me tremer. Entre o portão e a recepção havia um grande jardim (foto) e eu entrava e saía esperando um tijolo bater na minha cabeça!
2 – Um homem barbudo visitava uma ala de doentes mentais que eram mantidos em celas trancadas. Na terceira cela, o ocupante chamou o homem para mais perto e disse: “O senhor, com essa barba bonita, tenha cuidado, não se aproxime das grades. Esses doidos aí podem agarrar sua barba e machucar o senhor!” O homem agradeceu e manteve distância das grades.
Ao sair, resolveu voltar e agradecer o homem que o havia alertado: “Queria agradecer ao aviso que o senhor me deu” e, aproximou-se da grade. O doido segurou a barba com as duas mãos e sacudindo, dizia: “EU-NÃO-DIS-SE-PA-RA-VO-CÊ-NÃO-SE-A-PRO-XI-MAR-DAS-GRA-DES???”
No final de 1986 fui enviado para o interior de Rondônia para gravar um vídeo sobre a situação do Hospital Estadual de Ji-Paraná (não sei se a denominação correta era esta), cujas instalações eram um aproveitamento de um antigo presídio. Detalhe: Fizeram poucas obras de adaptação.
O diretor nos levou para visitar uma ala onde ainda existiam celas, com grades e camas de concreto. Em uma delas estava internada uma mulher com malária. Nas outras duas celas havia dois homens com problemas mentais. Um deles começou a cantar o Hino Nacional, quando ligamos a iluminação. O outro, me chamava mais perto para contar como estava sendo tratado naquele hospital.
Eu não usava barba, mas tinha cabelos…
Óqui, ó!

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Belo Horizonte Doidos Hospital Raul Soares Ji-Paraná Rondônia 

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