O livro desperta lembranças
Que os livros aguçam as sensações de quem lê, todo mundo sabe. Nos últimos três dias me vi em uma voadeira viajando pelo baixo Rio Madeira, subindo os barrancos escorregadios ou as escadas íngremes de Calama, Santa Catarina, Cujubim Grande ou Cuniã. Senti o ar puro, o cheiro do peixe frito, ouvi o canto dos pássaros e proseei com os moradores. Todas estas lembranças foram despertadas ao ler o livro Mito e identidade em Nazaré – RO – Uma leitura pós-colonial das manifestações culturais de uma comunidade ribeirinha, de autoria da jornalista Simone Norberto (Editora Temática/2020). A obra é ilustrada pelo artista plástico Flávio Dutka.
Os diversos aspectos da vida ribeirinha sob o ponto de vista do artista plástico Flávio Dutka
O foco do livro é o Distrito de Nazaré e seus habitantes, mas as características do ribeirinho, de uma forma geral, é igual aquelas descritas e analisadas pela Simone com as respectivas fundamentações científicas. Das comunidades do Baixo Madeira, estive mais vezes em Calama e procurava ouvir as histórias e perguntava muito.
O livro encadeia e tece as histórias de vida dos entrevistados, extraindo o que eles pensam sobre mitos como o curupira, o boto, a Matinta Pereira, a cobra grande, as visagens, as assombrações, o sobrenatural, enfim. O grupo Minhas Raízes é apontado por muitos entrevistados como os agentes da elevação da auto-estima dos moradores de Nazaré, já que as músicas compostas e executadas pelo grupo falam do dia-dia beradeiro, exaltando esse jeito simples de viver.
Recomendo o livro da Simone Norberto para os que ainda desconhecem a região ribeirinha e, também, para os que conhecem a cultura beiradeira pouco valorizada.
O link do livro está aqui: https://bit.ly/mito-e-identidade