22 de abril de 2020

Não vi, mas existe

Por José Carlos Sá

Estou lendo o livro Mito e Realidade em Nazaré – RO, da jornalista Simone Norberto. Alguns dos relatos dos moradores da vila sobre visagens e encantados me fizeram lembrar de um trabalho acadêmico que fiz em parceria com a minha então colega do curso de Turismo, Maristela Falcão.

Seu Manoel, do peixe na palha de bananeira (Foto JCarlos/2001)

Fomos entrevistar o seu Manoel do peixe na folha de bananeira, que residia na Vila Candelária. Para quem não o conheceu, seu Manoel preparava o tambaqui que era assado na brasa, envolto numa palha de bananeira. A procura era grande e em determinados domingos, precisava fazer reservas.

Começamos a entrevista perguntando onde ele aprendeu a técnica de assar o peixe daquela forma. Seu Manoel contou que viu os índios fazendo, achou interessante e adotou o método. Não me recordo da conversa toda, pois essa entrevista aconteceu há mais de vinte anos, mas lembro da história que seu Manoel contou quando perguntei se ele havia visto alguma coisa estranha durante o tempo que morou no seringal.

A resposta foi mais um menos assim:

– Eu não acredito em visagem não, nunca vi nada. Mas eu tinha um vizinho no seringal – vizinho é maneira de dizer, o barracão dele ficava muitos quilômetros distante. Esse vizinho precisou ir à cidade e deixou a mulher dele sozinha. Ela me contou que por volta das onze horas da noite, ouviu o barulho de pedras caindo no telhado. Achando que era o marido que tinha voltado mais cedo, se levantou da rede e gritou: Vem logo homem, para de graça! Não apareceu ninguém. Dias depois ela soube que o marido havia morrido aqui em Porto Velho, na mesma hora em que ela ouviu as pedras caírem no telhado. Eu acho que era o marido avisando ela. É como eu disse, ver, eu nunca vi nada…

No livro da Simone, alguns entrevistados afirmam que nunca viram, mas acreditam que “alguma coisa” inexplicável existe. Como dizem os espanhóis, “No creo en brujas, pero que las hay, las hay!”