Nos primeiros anos depois do descobrimento, o Brasil ainda era pouco habitado e alvo de disputa entre portugueses e espanhóis, já que nenhum daqueles países respeitava o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, dividindo o novo mundo em duas partes, sob arbitragem do Papa Alexandre VI. Houve contestação pelo rei de Portugal, mas o martelo foi batido. Em início do ano de 1551, aportou na ilha de Santa Catarina uma expedição comandada pela capitã María de Sanabria.
Os três navios levavam 100 mulheres – a maioria jovens – para casar com os espanhóis que estavam isolados em Assunção, no Paraguai. “A coroa temia que, com a grande quantidade de mestiços, a classe espanhola, pura, se perdesse e, assim, não conseguisse dominar o território”, pois os espanhóis estavam abusando das mulheres indígenas, explica o professor uruguaio Diego Bracco, autor do livro “María de Sanabria – A lendária expedição das mulheres que atravessaram o Atlântico no século XVI” (Editora Record).
O autor conta que quem viria comandando a expedição seria Juan de Sanabria, que morreu pouco antes da viagem. O filho dele, herdeiro de direitos e deveres, se recusou a vir para o Rio da Prata. Então María, duas irmãs e a viúva de Juan, assumiram a missão. Ao tentar aportar na baía sul da ilha de Santa Catarina, as embarcações naufragaram.
Uma parte das mulheres ficou em Santa Catarina, outras buscaram a proteção dos portugueses em São Paulo e um grupo seguiu María de Sanabria, a pé, pelo caminho de Peabiru, em direção ao Paraguai, como fez o aventureiro Dom Álvar Nuñes Cabeza de Vaca, em 154o.
A missão de María foi cumprida. Ela teve dois filhos, sendo que o segundo, Hernando Arias, foi três vezes governador do Rio da Prata.