Uma das músicas que mais gosto é “Cálice”, uma feliz composição de Chico Buarque e Gilberto Gil, que foi gravada por vários intérpretes, sendo a minha preferida pelo próprio Chico em dueto com Milton Nascimento. A música foi censurada em 1973 e só liberada em 1978. Vi a interpretação da canção pelo português Roberto Leão e pelos músicos e cantores Renato Braz (SP), Breno Ruiz (SP) e Mário Gil (MG) no Sr. Brasil, programa do Rolando Boldrim, que a TV Cultura exibiu domingo e voltei no tempo.
Quando a gravação foi permitida e saiu no LP Chico Buarque, em 1978, eu era cabo da Aeronáutica e fã do cantor e decorei praticamente as onze músicas do disco. Um dia, cantarolando Cálice, “pai, afasta de mim esse cálice…”, fui surpreendido pelo tenente Cruz, que me repreendeu:
– Cabo, essa música é subversiva e você não pode cantá-la aqui no quartel e nem na rua!
– Mas tenente, foi Jesus Cristo quem disse quando estava morrendo na cruz!
– Já disse, é subversiva!
– Mas, tenente…
– Não pondere!
No jargão militar, ponderar é argumentar. E eu me calei, mas fiz igual ao Muttley: “Hihihihi“